sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Valdecir de Oliveira Anselmo: "5 Poemas"

AUTO-RETRATO

Ensimesmo-me na aprazibilidade d’um recanto
Onde entôo meu canto, qual feérica ave canora
Em hora prandial, hora de comunhão com a luz
A qual transluz do peito como quem em templo ora

Sou quem está a um passo da angelitude, mas vacila
Quem se envereda por trilha de lucescentes pegadas
As quais se acham atadas por liames indeléveis
Impregnadas de leves recendências ou de atmosferas pesadas

Sou quem almeja embeber-se na luz do que lhe falta alcançar
Quem vê algo abarcar, aquilo que anela
Que diante de si desvela em toda sua visão sublime
Mas que logo se esvai o encanto quando se vê imanente a ela

Sou quem ao belo, embevecido, contempla, extasiado
A deslindar-lhe o segredo, ocultado em seus variados feitios
Descrevendo com atavios, em formas que lhe agrada
Pois com as mesmas, cumpliciada, prende-se a alma em seus lios.

De tudo aquilo que creio, por mais que haja contraste:
Amo o fugaz devaneio de um poeta, seu sonho
E folgo, assim, tão risonho, ao que me alimenta e seduz
... e assim minha vida conduz em um acalanto, destarte.



DESEJO DE UM ANJO

A dulcificante ternura que exala a alma
Na placidez idílica, calma dos elementos
Tem a fluidez dos alentos, refocilo apetecível
É indelével, imperecível, como os anelados pensamentos

Regozijos, cortejos de encantos deleitosos
Dimanam d’anjos garbosos, anjos adejantes
Melenas esvoaçantes no céu, arco luminoso
É qual vistoso sorriso nos paramos triunfantes

Se houvessem dois sóis a refulgirem seu olhar
Seriam tácito expressar dos olhos de um anjo risonho
Cuja vivaz expressão do seu sonho, seu anelo
É ver incidir seu desvelo num olhar plangente, tristonho
E faze-lo sorrir, novamente.



A ATMOSFERA D’UM SONHO

Deitar e sonhar e então a alma
Em aprazível calma embebida
Como se o alento pra toda a vida haurisse
Como pra luz se influísse toda a esperança comedida

Deitar e sonhar e então deixar o devaneio
Como um anelo em permeio se imiscuir no seu sonho
E de um poema sobejamente enfadonho, torná-lo vibrante
E um olor penetrante fazê-lo ficar tão risonho

Deitar e sonhar e no sonho então te encontrar
E a alma, por fim, se insuflar de uma alegria incontida
Que se translada pra vida, como a inspirar e aquecer
Como deixar-se enternecer em atmosfera querida.



SUSPIROS NOTURNOS

Divagas minha alma, suspirosa
Ao colher uma rosa em onírico jardim
Entrajando-me do carmim que dimanar dela
E vendo o bailado duma estrela, como se o céu estivesse em festim

Divagas minha alma, suspirosa
Ao ver no céu, tão formosa, a decantada Lucina
Como a musa que se destina à ansiedade aplacar
De meus olhos a enamorar fugidia imagem de menina

Divagas minha alma, suspirosa
Sorvendo a paz deleitosa de quem no encanto se embebe
No rocio da noite - e recebe abluência
A lhe perpassar na essência - e a transmutar-se se atreve.



AMOR: FLAMEJANTE PERFUME

O poeta em nímeo gole todo encanto entorna
E seu desvelo adorna de virtude a alma que ama
Pois do coração dimana toda ternura e afeto
Que transmite ao ser dileto aos fulgores de uma flama

E toda tristeza se esvai, se estiola
Nessa olência que evola, suscitando encanto
Que provem do recanto onde nasce uma flor
Cujo doce olor é tal qual acalanto

E o rocio que cai e lha embebe
Diria até que se atreve a dar-lhe um beijo ligeiro
Qual anjo assim tão fagueiro, na alacridade do afeto
Fazendo um méleo dueto com o refrescor do seu cheiro.

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