AUTO-RETRATO
Ensimesmo-me na
aprazibilidade d’um recanto
Onde entôo meu
canto, qual feérica ave canora
Em hora prandial,
hora de comunhão com a luz
A qual transluz do
peito como quem em templo ora
Sou quem está a um
passo da angelitude, mas vacila
Quem se envereda
por trilha de lucescentes pegadas
As quais se acham
atadas por liames indeléveis
Impregnadas de
leves recendências ou de atmosferas pesadas
Sou quem almeja
embeber-se na luz do que lhe falta alcançar
Quem vê algo
abarcar, aquilo que anela
Que diante de si
desvela em toda sua visão sublime
Mas que logo se
esvai o encanto quando se vê imanente a ela
Sou quem ao belo,
embevecido, contempla, extasiado
A deslindar-lhe o
segredo, ocultado em seus variados feitios
Descrevendo com
atavios, em formas que lhe agrada
Pois com as
mesmas, cumpliciada, prende-se a alma em seus lios.
De tudo aquilo que
creio, por mais que haja contraste:
Amo o fugaz
devaneio de um poeta, seu sonho
E folgo, assim,
tão risonho, ao que me alimenta e seduz
... e assim minha
vida conduz em um acalanto, destarte.
DESEJO DE UM ANJO
A dulcificante
ternura que exala a alma
Na placidez
idílica, calma dos elementos
Tem a fluidez dos
alentos, refocilo apetecível
É indelével,
imperecível, como os anelados pensamentos
Regozijos,
cortejos de encantos deleitosos
Dimanam d’anjos
garbosos, anjos adejantes
Melenas
esvoaçantes no céu, arco luminoso
É qual vistoso
sorriso nos paramos triunfantes
Se houvessem dois
sóis a refulgirem seu olhar
Seriam tácito
expressar dos olhos de um anjo risonho
Cuja vivaz
expressão do seu sonho, seu anelo
É ver incidir seu
desvelo num olhar plangente, tristonho
E faze-lo sorrir,
novamente.
A ATMOSFERA D’UM SONHO
Deitar e sonhar e
então a alma
Em aprazível calma
embebida
Como se o alento
pra toda a vida haurisse
Como pra luz se
influísse toda a esperança comedida
Deitar e sonhar e
então deixar o devaneio
Como um anelo em
permeio se imiscuir no seu sonho
E de um poema
sobejamente enfadonho, torná-lo vibrante
E um olor
penetrante fazê-lo ficar tão risonho
Deitar e sonhar e
no sonho então te encontrar
E a alma, por fim,
se insuflar de uma alegria incontida
Que se translada
pra vida, como a inspirar e aquecer
Como deixar-se
enternecer em atmosfera querida.
SUSPIROS NOTURNOS
Divagas minha
alma, suspirosa
Ao colher uma rosa
em onírico jardim
Entrajando-me do
carmim que dimanar dela
E vendo o bailado
duma estrela, como se o céu estivesse em festim
Divagas minha
alma, suspirosa
Ao ver no céu, tão
formosa, a decantada Lucina
Como a musa que se
destina à ansiedade aplacar
De meus olhos a
enamorar fugidia imagem de menina
Divagas minha
alma, suspirosa
Sorvendo a paz
deleitosa de quem no encanto se embebe
No rocio da noite
- e recebe abluência
A lhe perpassar na
essência - e a transmutar-se se atreve.
AMOR: FLAMEJANTE PERFUME
O poeta em nímeo
gole todo encanto entorna
E seu desvelo
adorna de virtude a alma que ama
Pois do coração
dimana toda ternura e afeto
Que transmite ao
ser dileto aos fulgores de uma flama
E toda tristeza se
esvai, se estiola
Nessa olência que
evola, suscitando encanto
Que provem do
recanto onde nasce uma flor
Cujo doce olor é
tal qual acalanto
E o rocio que cai
e lha embebe
Diria até que se
atreve a dar-lhe um beijo ligeiro
Qual anjo assim
tão fagueiro, na alacridade do afeto
Fazendo um méleo dueto com o refrescor do seu
cheiro.
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