SAUDADES NO PORVIR
Eu vou com
a noite
Pálida e
fria
Na penedia
Me
debruçar:
O
promontório
De negro
dorso,
Qual nau
de corso
Se alonga
ao mar.
Dormem as
horas,
A flor
somente
Respira e
sente
Na
solidão;
A flor das
rochas,
Franzina e
leve,
Ao sopro
breve
Da
viração.
Cantando o
nauta
Desdobra
as velas
Argênteas,
belas
Azas do
mar;
Branqueia
a proa
Partindo
as vagas,
Que n'
outras plagas
Se vão
quebrar.
Eu ponho
os olhos
No
firmamento:
Que
isolamento,
Oh, minha
irmã!
Apenas o
astro
Que a luz
duvida,
Promete a
vida
Para
amanhã.
Naquela
nuvem
Te vejo
morta;
Meu peito
corta
Cruel
sentir ï
Da lua o
túmulo
Na onda
ondula,
E o mar
modula
Como um
porvir...
DÁ MEIA-NOITE
Dá
meia-noite em céu azul-ferrete
Formosa
espádua a lua
Alveja
nua,
E voa
sobre os templos da cidade.
Nos
brancos muros se projetam sombras;
Passeia a
sentinela
À noite
bela
Opulenta
da luz da divindade.
O silêncio
respira; almos frescores
Meus
cabelos afagam;
Gênis
vagam,
De alguma
fada no ar andando à caça.
Adormeceu
a virgem; dos espíritos
Jaz nos
mundos risonhos –
Fora eu os
sonhos
Da bela
virgem… uma nuvem passa.
VINTE E OITO DE JULHO
Os lábaros
verdes nos ares ondulam,
Na glória
da pátria, na crença de Deus!
Os peitos
levantam-se, os hinos modulam,
Na terra
cantados, ouvidos nos céus!
Nas róseas
torrentes que descem d'aurora,
Nos
ventes, nos mares convulsos de amor
Os cantos
formosos s'entoam d'outrora,
Que as
frontes incendem de eterno fulgor!
Os louros
não murcham na pátria dos lírios!
Os cravos
não tomba m dos braços da cruz!
-Se pungem
com sangue, com fundos martírios,
Sabeis que
transformam-se em astros de luz!
Dobrai os
joelhos! beijai esta terra
De nobres
passados! sabei ter-lhe amor!
Sabei
defendê-la nos campos da guerra —
Sois
livres! sois filhos do sol do equador!
EU VI A FLOR DO CÉU
Eu vi a
flor do céu — meiga esperança
Sorrindo
para mim, Deus verdadeiro!
EU amei
como um doido a formosura,
E eu não
tinha dinheiro...
Então
senti minha alma degradada,
Como à
bandeira que hasteou Tarquino,
Quando o
fogo da febre lhe lavrava
Nas veias
do assassino.
E do mundo
aos aplausos, minha fronte
Pálida
entristeceu, mal resignada,
Como essas
flores, cuja alvura indica
Flórea
estação passada.
MARIA
Onde foram
os encantos divinos,
Onde a
crença de eterna magia,
Fonte
meiga da luz e dos hinos,
Onde
estas? onde foste, Maria?
Tens a
fronte que tinhas na infância,
Pura e
branca, inda toda harmonia:
Mas, da
bela inocência a fragrância...
Onde
estas? onde foste, Maria?
Ter em ti
eu pensava encontrado
Meu
sublime ideal da poesia;
Encontrei
a mulher em seu fado —
Onde
estas? onde foste, Maria?
Se hoje
choro, aos que estavam descentes
Já mostrei
meu amor na alegria:
Terno
orgulho dos dias contentes,
Onde
estas? onde foste, Maria?
Onde
foste? onde foste? — procuro
O que na
alma cantando te ouvia,
E já temo
de ouvir-te — e murmura:
Onde
estas? onde foste, Maria?
Onde foram
os divinos encantos,
Onde o mundo
em que eu dantes vivia?
Porque a
fonte do riso é dos prantos?
Onde
estas? onde foste, Maria?
---
Fonte
"Toda a Poesia: Antologia Poética". Poeteiro Editor Digital. São Paulo, 2015.
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