terça-feira, 17 de novembro de 2015

Sara de Tobias: "5 Poemas"

SÓROR DOLOROSA

Reconforta-me a fúria dos devassos,
O suspiro ritmado dos violinos,
O coleio febril dos corpos lassos
E os violentos impulsos femininos.

Irrita-me a cadencia dos meus passos,
O pelo acariciante dos felinos,
O triste colorido dos espaços,
E o ritmos lento dos enfermos sinos..
Tortura-me o desejo das perdidas,
Das que trilham do vicio a longa estrada,
Das que fingem e são apetecidas...

Mas revolta-me o cerco destes muros,
Onde vivo escondida e torturada
Mostrando às outras pensamentos puros..



FREIRA

À meia luz da semi-obscuridade,
Onde domo o furor dos meus impulsos,
Sinto horror e repilo a virgindade
E o triste manto que me algema os pulsos.

Envergonha-me a falsa castidade,
Amo, os ímpetos lúbricos, convulsos,
A alvorada da minha mocidade,
Os desejos insanos e propulsos...
Amo, os rutilos sonhos de ventura,
A violenta emoção do meu delírio
E o pecado que afaga e que tortura...

Mas odeio e maldigo este convento,
Onde vivo carpindo o meu martírio
E abafando o meu próprio sentimento.



LAÍS

Aos poucos morre a tarde no poente,
Canta na sombra o meu amor... Palpito.
E, o sol que inclina a fronte de doente,
Tem o aspecto cansado do proscrito.

Geme urna folha sob os pés, dolente;
Choram as rochas brutas de granito.
A sombra avança majestosamente
Acariciando o corpo do infinito.

A natureza agitasse nervosa,
Sente da luz urna saudade enorme,
Enquanto a sombra avança vagarosa,
E dentro dessa mágoa que me altera,
Sinto vibrar em mim o impulso enorme
Da carne a me assaltar corno pantera.



AO MEU SONHO

Gloria a mim! que sonhei, na ânsia do meu desejo
Pelo deserto hostil da minha vida rude,
0 divino., sabor do teu primeiro beijo,
A primavera em flor da tua juventude!

Vem a mim... Vem ouvir o voluptuoso harpejo,
Do enfermo coração cantando a solitude...
Tenho sede de amor, e este feliz ensejo,
Será meu, será teu, será nossa virtude...

Vem a mim... Vem unir, numa volúpia louca,
A tua alma a minh'alma, inteiramente nua.
O teu corpo ao meu corpo, e a boca a minha boca

Mas,ó sonho pagão, se fores sonho só
Que eu não te goze nunca e nunca te possua,
Na viagem triunfal do ser humano ao pó...


 
SONHO DE VIRGEM

Sonho que vens, radiante de beleza,
Beijar lascivo e tonto a minha boca.
E eu tremula de gozo e de surpresa,
Sinto em sonhos, que o sonho me sufoca...

Num arroubo sublime de impureza.
Abro os braços, ardendo em ânsia louca,
E num misto de amor e de incerteza,
Minha boca, procura a tua boca...
Lótico de amor, afagas o meu peito,
Ardes e fremes no delírio extremo
E tombas extenuado e satisfeito...

Acordo... Maldição. Tudo é tristonho,
Foi mentira o meu sonho, e, de ódio tremo,
Na certeza que foi apenas sonho...



Fonte
"Toda a Poesia: Antologia Poética". Poeteiro Editor Digital. São Paulo, 2015.

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