quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Fausto Guedes Teixeira: "5 Poemas"

AMAR OU ODIAR

Amar ou odiar: ou tudo ou nada!
O meio termo é que não pode ser.
A alma tem que estar sobressaltada
Para o nosso barro se sentir viver...

Não é uma cruz a que não for pesada,
Metade de um prazer não é um prazer;
E quem quiser a alma sossegada,
Fuja do mundo e deixe-se morrer!

Vive-se tanto mais quando se sente:
Todo o valor está no que sofremos.
Que nenhum homem seja indiferente!

Amemos muito como odiamos já:
A verdade está sempre nos extremos
Porque é no sentimento que ela está!
 

VERSOS À GRÉCIA

Mata o amor da Pátria o amor da Humanidade,
E ao pé da nossa Pátria, a Humanidade o que é?!
Só em face da morte é que existe a igualdade;
Mesmo entre irmãos, na vida, há distâncias até.

Espírito que o mundo em teu abraço agarras,
São debaixo do céu os homens tão dif’rentes!
Pra defender os mais, sentimo-nos com garras,
Mas, pra nos defender, temos até os dentes.

Os gritos dos clarins da velha Grécia em p’rigo,
O grande coração desse povo aviltado
Se em todos encontrou um coração amigo,
Fez do homem mais fraco um heróico soldado.

A nossa linda terra é Deus que no-la guarda!
Mas para libertar, convosco, o vosso solo,
Só não há de saber pegar numa espingarda
Quem não souber pegar numa criança ao colo.

Há mil bocas de fogo em cada peito: é abri-lo!
Nas bocas dos canhões há corações a arder!
Fala-se em pátria? Basta! É o seu torrão aquilo
Que eles defendem? Basta! Eles hão de vencer.

Lutar-se braço a braço e fibra contra fibra,
É o que a nossa razão e consciência ensina;
Não gosto do punhal, mas quando quem o vibra
É fraco e aviltado, é uma arma divina!

Porque sou, como vós, dum país ameaçado,
Eu compreendo, agora, o vosso ódio bem;
Amanhã entrarão no meu país amado
E tentarão matar os meus irmãos também.

Que importa? Ao expirar coberto de mil f’ridas,
Eu direi para mim, mais viva a fé que tinha,
Que todas as nações poderão ser vencidas,
Há uma só que nunca o pode ser: é a minha!

Pois pensai vós também que, seja como for,
Não há nada e ninguém que aniquilar-vos possa,
E a bandeira que ergueis, de que nem sei a cor,
Há de tomar no ar as lindas cor’s da nossa.

Sofrereis? Certamente! E que importa sofrer?
Só a dor purifica e torna a vida bela!
Quem me dera uma hora igual, p’ra combater!
A minha Pátria assim, para morrer por ela!


SONETO

Não há mulher que não tenha um encanto,
todas são belas seja no que for;
a alma, por mais oculta, em qualquer canto
há de romper, e dar a sua flor.

Mas quando nada dê, temos, no emianto,
em nós, poder de tudo lhe supor
desde a pureza, se esse amor é santo,
ao mais, se o nosso amor é bem amor.

Entre as surpresas de que nos rodeia
a vida, pode uma alma ser perdida?
criatura de amor, que seja feia?

Sonho que eu vivo, e por que, há tanto, chamo!
Quem me dera, através da minha vida,
encontrar, afinal, a que eu não aniol...


ESBOÇO

Negro o cabelo, a fronte iluminada,
O nariz curvo, a boca pequenina,
Nos olhos escuríssimos cravada
Uma estrela no fundo da retina.

Nas faces uma rosa desmaiada
E outra rosa nos lábios purpurina,
Seus pequeninos pés os duma fada
E o seu corpo um corpinho de menina.

Todos os traços cheios de expressão,
Nas mãos um fogo estranho que lhas beija,
Porque eu lhe pus nas mãos o coração.

Eis o esboço rápido daquela
Que, sempre que na vida alguém a veja,
Nunca mais vê ninguém senão a ela!


PARA TODO SEMPRE

Quando se chega a ver nitidamente
O erro duma primeira ligação,
É muito natural que toda a gente
Se dê um dia a outro coração.

Mas sempre que na vida a mulher sente
Que se enganou e aceita outra paixão,
Então, ou a conserva eternamente
Ou ela pensa que não tem perdão.

E é por esse motivo que, ao segundo
Amor, ela se prende como cega,
Sem com mais nada se importar no mundo.

É que a mulher, feliz ou desgraçada,
Não se perde na hora em que se entrega,

Mas na hora em que for abandonada.


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Fonte
"Toda a Poesia: Antologia Poética". Poeteiro Editor Digital. São Paulo, 2015.

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