AMAR OU ODIAR
Amar ou
odiar: ou tudo ou nada!
O meio
termo é que não pode ser.
A alma tem
que estar sobressaltada
Para o
nosso barro se sentir viver...
Não é uma
cruz a que não for pesada,
Metade de
um prazer não é um prazer;
E quem
quiser a alma sossegada,
Fuja do
mundo e deixe-se morrer!
Vive-se
tanto mais quando se sente:
Todo o
valor está no que sofremos.
Que nenhum
homem seja indiferente!
Amemos
muito como odiamos já:
A verdade
está sempre nos extremos
Porque é
no sentimento que ela está!
VERSOS À GRÉCIA
Mata o
amor da Pátria o amor da Humanidade,
E ao pé da
nossa Pátria, a Humanidade o que é?!
Só em face
da morte é que existe a igualdade;
Mesmo
entre irmãos, na vida, há distâncias até.
Espírito
que o mundo em teu abraço agarras,
São debaixo
do céu os homens tão dif’rentes!
Pra
defender os mais, sentimo-nos com garras,
Mas, pra
nos defender, temos até os dentes.
Os gritos
dos clarins da velha Grécia em p’rigo,
O grande
coração desse povo aviltado
Se em
todos encontrou um coração amigo,
Fez do
homem mais fraco um heróico soldado.
A nossa
linda terra é Deus que no-la guarda!
Mas para
libertar, convosco, o vosso solo,
Só não há
de saber pegar numa espingarda
Quem não
souber pegar numa criança ao colo.
Há mil
bocas de fogo em cada peito: é abri-lo!
Nas bocas
dos canhões há corações a arder!
Fala-se em
pátria? Basta! É o seu torrão aquilo
Que eles
defendem? Basta! Eles hão de vencer.
Lutar-se
braço a braço e fibra contra fibra,
É o que a
nossa razão e consciência ensina;
Não gosto
do punhal, mas quando quem o vibra
É fraco e
aviltado, é uma arma divina!
Porque
sou, como vós, dum país ameaçado,
Eu
compreendo, agora, o vosso ódio bem;
Amanhã
entrarão no meu país amado
E tentarão
matar os meus irmãos também.
Que
importa? Ao expirar coberto de mil f’ridas,
Eu direi
para mim, mais viva a fé que tinha,
Que todas
as nações poderão ser vencidas,
Há uma só
que nunca o pode ser: é a minha!
Pois
pensai vós também que, seja como for,
Não há
nada e ninguém que aniquilar-vos possa,
E a
bandeira que ergueis, de que nem sei a cor,
Há de
tomar no ar as lindas cor’s da nossa.
Sofrereis?
Certamente! E que importa sofrer?
Só a dor
purifica e torna a vida bela!
Quem me
dera uma hora igual, p’ra combater!
A minha
Pátria assim, para morrer por ela!
SONETO
Não há mulher
que não tenha um encanto,
todas são
belas seja no que for;
a alma,
por mais oculta, em qualquer canto
há de
romper, e dar a sua flor.
Mas quando
nada dê, temos, no emianto,
em nós,
poder de tudo lhe supor
desde a
pureza, se esse amor é santo,
ao mais,
se o nosso amor é bem amor.
Entre as
surpresas de que nos rodeia
a vida,
pode uma alma ser perdida?
criatura
de amor, que seja feia?
Sonho que
eu vivo, e por que, há tanto, chamo!
Quem me
dera, através da minha vida,
encontrar, afinal, a que eu não aniol...
encontrar, afinal, a que eu não aniol...
ESBOÇO
Negro o cabelo, a
fronte iluminada,
O nariz curvo, a
boca pequenina,
Nos olhos
escuríssimos cravada
Uma estrela no
fundo da retina.
Nas faces uma rosa
desmaiada
E outra rosa nos
lábios purpurina,
Seus pequeninos
pés os duma fada
E o seu corpo um
corpinho de menina.
Todos os traços
cheios de expressão,
Nas mãos um fogo
estranho que lhas beija,
Porque eu lhe pus
nas mãos o coração.
Eis o esboço
rápido daquela
Que, sempre que na
vida alguém a veja,
Nunca mais vê
ninguém senão a ela!
PARA TODO SEMPRE
Quando se chega a
ver nitidamente
O erro duma
primeira ligação,
É muito natural
que toda a gente
Se dê um dia a
outro coração.
Mas sempre que na
vida a mulher sente
Que se enganou e
aceita outra paixão,
Então, ou a
conserva eternamente
Ou ela pensa que
não tem perdão.
E é por esse
motivo que, ao segundo
Amor, ela se
prende como cega,
Sem com mais nada
se importar no mundo.
É que a mulher,
feliz ou desgraçada,
Não se perde na
hora em que se entrega,
Mas na hora em que
for abandonada.
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Fonte
"Toda a Poesia: Antologia Poética". Poeteiro Editor Digital. São Paulo, 2015.
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