DA NASCENTE INFÂNCIA
I
Da nascente
infância cachos de uva
Deslizavam nas
vagas. O perfume
Nos remansos dizia
do costume
De o sol aquecer
meu corpo. Entregava
Assim seus frutos
dourados à vida
Prazerosa, de
fluxos colorida.
Era o que
importava: o vivo sabor
De folhas úmidas,
o puro ardor
Do salto nas
águas. Este fervor
Que me impelia
para desfrutar
O mel descendo dos
ramos da chuva.
De doçura lambuzado
nadava
E nadava sem
querer descansar.
Do céu nas águas,
ó rio do amor.
II
Descubro pepitas
nas goiabeiras
Carregadas de
goiabas maduras.
Na ilha, no meio
do rio, provoca
A cena meus olhos.
E minha boca
Molha com o que
dia e noite sonhei.
Nada melhor pra
dizer dessa vez
Da inocência do
que a descoberta
Que ressoa dentro
o mel da colheita.
No aprendiz
reverbera a linguagem
Formada por
pássaros, peixes, flores
Das margens e das
vagas. Blindagem
Do tempo que nesse
sol venturoso
Brilha, respira
sem o perigoso
Gesto do viver,
que há de vir com dores.
DO ESGOTO A CÉU ABERTO
Ficou claro que as
lavadeiras, quando
Botavam as roupas
para secar,
Coloriam as
inúmeras pedras
Pretas, levando
emoção a quem visse.
A cidade sabia que
a argamassa
Das casas era
feita duma fibra
Especial: calo,
suor e areia.
O peixe fabricava
o pão da vida.
O aguadeiro
anunciava a água fresca
Com uma voz
cristalina. O visual
De tão lindo
parecia sem fim.
Ficou claro que de
tanto no ventre
Virar lodo o
espetáculo envergonha.
Eis que escorre no
esgoto a céu aberto.
DO JULGADO DO RIO
Venho sendo omisso
pra refazer
Virginais caminhos
de água, dizendo
Melhor, matei o
que era para ser
Vivo no seu
amanhecer líquido.
Eu me acuso por
ser indiferente
Ao benefício,
sempre abundante,
De água pura que
jorrava na fonte.
Peixe e rede no
orvalho competente.
E como réu
confesso que merece
Por tão grave
ilícito ser punido,
Chegando do que
lhe foi natural,
Em noite morta,
que nunca apetece,
Lavro minha
sentença, condenado
A ver as mãos
usadas para o mal.
---
Fonte:
Revista da Academia de Letras da Bahia, nº 53, 2015
Fonte:
Revista da Academia de Letras da Bahia, nº 53, 2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário