HISTÓRIA DO COMPADRE RICO E DO COMPADRE POBRE
Moravam numa aldeia dois
compadres. Um era pobre e o outro rico, mas
muito miserável. Naquela terra era uso todos quantos matavam porco dar
um lombo ao abade. O compadre rico, que
queria matar porco sem ter de dar o lombo,
lamentou-se ao pobre, dizendo mal de tal uso. Este deu-lhe de conselho
que matasse o porco e o dependurasse no
quintal, recolhendo-o de madrugada,
para depois dizer que lho tinham
roubado.
Ficou muito contente com aquela
ideia e seguiu à risca o que o compadre
pobre lhe tinha dito. Depois deitou-se com tenção de ir de madrugada ao
quintal buscar o porco. Mas o compadre
pobre, que era espertalhão, foi lá de noite e
roubou-lho. No dia seguinte, quando o rico deu pela falta do porco,
correu a casa do compadre pobre e muito
aflito contou-lhe o acontecido. Este, fazendo-se desentendido, dizia-lhe: Assim, compadre!
Bravo! Muito bem, muito bem! Assim é que
há-de dizer para se esquivar de dar o lombo ao abade!
O rico cada vez teimava mais ser
certo terem-lhe roubado o porco; e o pobre
cada vez se ria mais, até que aquele saiu desesperado, porque o não
entendiam.
O que roubou o porco ficou muito
contente e disse à mulher: Olha, mulher,
desta maneira também havemos de arranjar vinho. Tu hás-de ir a correr e
a chorar para casa do compadre, fingindo
que eu te quero bater; levas um odre debaixo do
fato, e quando sentires a minha voz, foges para a adega do compadre e
enquanto eu estou falando com ele,
enches o odre de vinho e foges pela outra porta para casa. A mulher, fingindo-se muito aflita,
correu para casa do compadre, pedindo que
lhe acudisse, porque o marido a queria matar. Nisto ouviu a voz do
marido e correu para a adega do
compadre, e enquanto este diligenciava apaziguar-lhe a ira, enchia ela o odre. Tinha-lhe esquecido, porém, um
cordão para o atar, mas tendo uma ideia
gritou para o marido: Ah! Goela de odre sem nagalho! O marido, que
entendeu, respondeu-lhe: Ah, grande
atrevida!... Que se lá vou abaixo, com a fita do cabelo te hei-de afogar! Ela, apenas isto ouviu,
desatou logo o cabelo, atou com a fita a boca
do odre e fugiu com ela para casa. Desta maneira tiveram porco e vinho
sem lhes custar nada, e enganaram o
avarento do compadre.
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Nota:
Adolfo Coelho: "Contos Populares Portugueses" (1879)
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Nota:
Adolfo Coelho: "Contos Populares Portugueses" (1879)
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