O PECADO
A
Anacleta ia caminho da igreja, muito atrapalhada, pensando no modo porque havia
de dizer ao confessor os seus pecados... Teria a coragem de tudo? E a pobre
Anacleta tremia só com a idéia de contar a menor daquelas cousas ao severo padre
Roxo, um padre terrível, cujo olhar de coruja punha um frio na alma da gente. E
a desventurada ia quase chorando de desespero, quando, já perto da igreja, encontrou
a comadre Rita.
Abraços,
beijos... E lá ficam as duas, no meio da praça, ao sol, conversando.
— Venho
da igreja, comadre Anacleta, venho da igreja... Lá me confessei com o padre
Roxo, que é um santo homem...
— Ai!
comadre! — gemeu a Anacleta — também para lá vou... e se soubesse com que medo!
Nem sei se terei a ousadia de dizer os meus pecados... Aquele padre é tão
rigoroso...
—
Histórias, comadre, histórias! — exclamou a Rita — vá com confiança e verá que
o padre Roxo não é tão mal como se diz...
— Mas é
que meus pecados são grandes...
— E os
meus então, filha? Olhe: disse-os todos e o Sr. padre Roxo me ouviu com toda a
indulgência...
—
Comadre Rita, todo o meu medo é da penitência que ele me há de impor, comadre
Rita...
— Qual
penitência, comadre?! — diz a outra, rindo — as penitências que ele impõe são
tão brandas!... Quer saber? contei-lhe que ontem o José Ferrador me deu um
beijo na boca... um grande pecado, não é verdade? Pois sabe a penitência que o padre
Roxo me deu?... mandou-me ficar com a boca de molho na pia de água benta durante
cinco minutos...
— Ai!
que estou perdida, senhora comadre, ai! que estou perdida! — desata a gritar a
Anacleta, rompendo num pranto convulsivo — Ai! que estou perdida!
A
comadre Rita, espantada, tenta em vão sossegar a outra:
— Vamos,
comadre! que tem? então que é isso? sossegue! tenha modos! que é isso que tem?
E a
Anacleta, chorando sempre:
— Ai,
comadre! é que, se ele me dá a mesma penitência que deu á senhora,
— não
sei o que hei de fazer!
—
Porque, filha? porque?
— Porque...
porque... afinal de contas... eu não sei como é que... hei de tomar um banho de
assento na pia!...
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Nota bibliográfica:
Olavo Bilac (com o pseudônimo de Bob): "Contos para Velhos", obra digitalizada por: NEAD – Núcleo de Educação à Distância, da Universidade da Amazônia.
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