quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Júlio Prestes: "5 Poemas"

BRUTUS

Depois dos meus, daqueles a quem devo
Desde o ser ao que sou, ora te digo,
O Brutus foi o meu melhor enlevo
E o meu maior amigo
Ao mundo veio quando a Humanidade
Se estercia na crise que lavrava
Com um incêndio enorme, apocalipse,
Devorando nações e dinastias.
- Ao mundo veio quando a terra toda
Era presa das chamas em que ardiam
Deus nos altares, no homem – o caráter:
Quando tudo mudava e quando, ao certo,
Amizade e traição se confundiam,
Da honra a noção nos homens se apagara
Do justo se apagara o são princípio.
- Ao mundo veio assim como um exemplo
E um castigo de Deus na sua inerrância
Na onisciência perfeita em que se plasma.
Seis lustros percorri, marcha batida,
De vitória em vitória, na existência,
Sempre na torre do comando, sempre
Nas serranias que o Poder levanta.
Até que um dia me exalcei ao cume
Do mais alto poder que a pátria ostenta
E encontrei-me entre Reis, entre Monarcas,
Chefes Civis e Príncipes de Igreja...
Todos cujo o poder do mundo inteiro
Encerram em suas mãos... E os meus amigos,
Exército incontável, fauna imensa,
Em progressão geométrica crescendo...
Neste ponto interrompo a narrativa...
A mim também chegou-me o mal do mundo,
Desci das posições que conquistara
As planícies da Vida. E vim sozinho.
- Onde os meus amigos que me acompanhavam?
Onde o valor dos chefes militares?
Cuja é a promessa dos vassalos? Onde?
Onde os chefes civis que me seguiam?
E o poder dos Monarcas, e as alianças
De outras nações? Onde o poder do Ouro
De banqueiros que chegam a ignorar-me?
Tudo, tudo falhou, que tudo falha
Quando na vida um passo em falso damos.
Mas, se tudo falhou, nesse momento
Não me falhou o cão cujo caráter
Pôs Deus acima do Poder humano
Para vergonha e exemplo desses homens
Que estão abaixo de seus pés... O Brutus
Como que tudo compreendendo, como
Com a alma divina penetrando
Meus próprios pensamentos, acudia
Ao mais incerto gesto ao mais incerto
Manifestar de uma vontade minha:
E era como se fosse a minha sombra
Mas, não sombra sem vida, sombra inerte
(Mancha que a luz projeta e a luza apaga)
Sombra viva da dor e da alegria.
A sombra da alma é que ele projetava,
Qual desvelado e vigilante amigo.
Esse, sim não Faltou. O amigo existe.
E a palavra amizade que fugira
Do coração dos homens, tem seu trono
No coração dos cães.



PRECE

“Na Igreja
Da Graça
Em Beja,
Existe
Uma Nossa Senhora da Saudade
A sua alegria é uma alegria triste
Mas agora a tristeza é uma fonte de bondade
Uma lágrima vence o seu sorriso
E há no se esplendor da sua mocidade
O clarão de um crepúsculo indeciso
A iluminar uma saudade.
É esta a Santa dos Expatriados
Que floresce e viceja
Nos corações dos exilados
Que rezam nessa Igreja
Nossa Senhora da Saudade,
Padroeira de Portugal
Senhora dos que sofrem, dos que penam
Longe dos seus e do país natal.”


 
ITAPETININGA

Itapetininga, belo e santo lar!
Jardim perfumoso, oh minha terra!
Somente em duas palavras vou cantar
As belezas que tens, que em ti encerras:

Chegando ao Mato Seco vê-se a serra
Que azulada se estende para o mar;
Verdejantes campinas onde berra
O nédio touro olhando para o ar.

A cidade parece um níveo bando
De garças que cansado de ir voando
Na campina repousa genuflexo

E o vasto horizonte se dilata
E o céu, qual lamina de prata
Estreita a terra em fraternal amplexo.



MEUS ARVOREDOS
Ao Dr. Henrique de Sá

Quando eu parti, deixei meus arvoredos
Viçosos, belos como sempre os tive;
A eles confiava os meus segredos...
Nenhum deles (coitados) hoje vive!

Nunca, porém, se apagarão da mente
As sombras maternais, que eles me davam,
Deixando-me girar, tranquilamente.
O meu pião que os ternos pais compravam.

Nas noites de luar, morto de amores,
Gostava de sonhar em torno deles,
Aspirando o aroma de suas flores...

Voltar desejo a esse tempo amado
E, embalde, invoco e brado por aqueles
Companheiros gentis do meu passado!


À MINHA MÃE

Oh! idolatrada mãe, mãe adorada,
Mãe de meu ser!
Saudade imensa eu tenho mire amada,
De quando, à noite eu te via acordar,
Só para aliviar o meu sofrer.
Bela e piedosa mãe, mãe amorosa,
Mãe de minha'alma;
Hoje que colhes tu mais unia rosa,
Por teu aniversário, mãe ditosa,
De longe te saúdo e bato palmas!
Cumprimento-te mãe, um só momento,
Não te esqueci!
E mui depressa passa o pensamento
E voa mais ligeiro de que o vento,
Mais rápido que a neta do tupi...

O teu carinho,mãe... (Ai ! pobrezinho!):
Eu não vi mais.
E assim passo qual ave sem ninho,
Que a procura de um outro passarinhe
Vai cantando as saudades de seus pais!

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