segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Ibrantina Cardona: "5 Poemas"

AO RIO GRANDE DO SUL

Qual soberbo leão ao pé da Cordilheira,
lá, dos pampas assoma a Terra majestosa;
gigantesca, apresenta a amplíssima Fronteira
do rábido Oceano á fúria tormentosa.

No Escudo do civismo ostenta, sobranceira,
a bravura e o valor da raça belicosa;
e a erguer da Liberdade a imacula Bandeira,
honra de trinta e cinco a tradição gloriosa.

Se alguém ousa afrontar do seu passado a Historia,
qual fúria do pampeiro, urgente troa a guerra;
surge o gaúcho audaz no dorso da vitória.

Salve a terra de heróis que a lealdade encerra,
e o lema do Progresso ostenta á luz da gloria!
Salve, berço de Osório, oh! minha heroica Terra!



TI-CHIN-FU
A OLAVO BILAC

Tem olhos cor de ônix, e do Japão é filho.
Usa o rabicho a ylang-ylang perfumado.
O rosto é cor de oca, e de Nanquim pintado,
o seu bigode negro e ralo tem mais brilho.

Veste cetim Macau, verde claro, bordado
á ouro, com dragões e rosas no peitilho.
Traz ventarola á cinta, em delicado atilho;
nos pés botins de cor, com bico revirado.


É mandarim fidalgo e tem ricas baixelas,
Quiosques, palanquins; habita um palacete
com teto de cristal e crivos nas janelas.

Na mesa de xarão dá sempre o seu banquete;
fuma ópio, é feliz; e, entre mulheres belas,
ressona embriagado em flácido tapete.



NATUREZA
A ANTÔNIO PARREIRAS

No centro colossal de um mundo panteísta,
para ti é que existe a Natureza grata;
na tua perspicaz retina se retrata,
fiel, se reproduz nessa tua alma artista.

Aos tímpanos, subtil, ressoa-te a cantata
desse supremo bem do espírito idealista,
quando vês, enlevado, a criação purista
das entranhas brutais surgindo, em cada mata.

Tudo nela te atrai a interpretá-la, casta,
enquanto o teu pincel copia, mais patentes,
encantos naturais de uma rudeza vasta.

E tudo quanto vês, e que, escutando, sentes,
na tela a palpitar com vida e amor, engasta
tu'alma de pintor no coração dos crentes.



MÃE
La bonté, c'est le fond des natnres augustes
...
Oh! l'amour d'nne mère! amour que nul n'oublio.
V. HUGO.

Bendito seja aquele que contempla,
com a alma aberta em luz, toda pureza,
essa que, unida a nós, o lar exempla,
do bem desempenhando a santa empresa.

Oh! transportes de amor! como é divina
a missão da bondosa companheira!
Vela por nós, e sofre e se amotina,
mas, nos lega de Mãe a prova inteira.

Mártir na dor, ditosa na alegria,
que ri conosco e chora se choramos,
seu coração é enorme eucaristia,
que perdoa e bendiz, embora erramos.

Desde o berço que embala compassiva,
reza pelo porvir doce e sereno;
e, enquanto o filho beija, pensativa,
n’alma lhe esplende o olhar do Nazareno.
A Mãe-mulher sublime, essa heroína,
sacrifica-se e ensina com carinho;
quanto é grande, é espinhosa sua sina,
quando os filhos conduz ao bom caminho.

Na ara do bem, sem mácula esculpida,
a ela só a gloria é consagrada;
sua vida é o alento de outra vida,
e su’alma é a moral purificada.


Bendito seja pois o que contempla,
com a alma aberta em luz, toda pureza,
essa que, unida a nós, o lar exempla,
do bem desempenhando a santa empresa.

Mas, seja mais bendita, eternamente,
pelos céus, por quem reza neste instante,
aquela que abençoa reverente,
e que sofre por mim, além, distante....
Oh! sim, bendita a Mãe, Mãe adorada,
a quem devo o tributo de meu peito,
a gratidão sincera, imaculada,
por tudo o que de bom eu tenho feito.



PRIMAVERA

Setembro. Sobre o dorso azul da Natureza
a Flora reaparece, abrindo em cada planta
a verde cornucópia... Em festa a camponesa
de grinaldas agora enche o regaço. Canta

alegre a multidão das aves. À clareza
do sol, abre a cascata a liquida garganta;
tudo se revigora e exulta; na grandeza
da força e da saúde a terra se levanta.

Do bosque revestido a seiva oxigenada
purifica os pulmões e a leve atmosfera...
Fecunda-se a Natura, e lúbrica e pejada,

do enorme ventre expele, em férvida cratera,
insetos e animais que, em grande debandada,
festejam bosque á fora a nova Primavera!

Nenhum comentário:

Postar um comentário