AO RIO GRANDE DO SUL
Qual soberbo leão
ao pé da Cordilheira,
lá, dos pampas
assoma a Terra majestosa;
gigantesca, apresenta
a amplíssima Fronteira
do rábido Oceano á
fúria tormentosa.
No Escudo do
civismo ostenta, sobranceira,
a bravura e o
valor da raça belicosa;
e a erguer da
Liberdade a imacula Bandeira,
honra de trinta e
cinco a tradição gloriosa.
Se alguém ousa afrontar
do seu passado a Historia,
qual fúria do
pampeiro, urgente troa a guerra;
surge o gaúcho
audaz no dorso da vitória.
Salve a terra de heróis
que a lealdade encerra,
e o lema do
Progresso ostenta á luz da gloria!
Salve, berço de
Osório, oh! minha heroica Terra!
TI-CHIN-FU
A OLAVO BILAC
Tem olhos cor de ônix,
e do Japão é filho.
Usa o rabicho a
ylang-ylang perfumado.
O rosto é cor de oca,
e de Nanquim pintado,
o seu bigode negro
e ralo tem mais brilho.
Veste cetim Macau,
verde claro, bordado
á ouro, com
dragões e rosas no peitilho.
Traz ventarola á
cinta, em delicado atilho;
nos pés botins de
cor, com bico revirado.
É mandarim fidalgo
e tem ricas baixelas,
Quiosques, palanquins;
habita um palacete
com teto de cristal
e crivos nas janelas.
Na mesa de xarão
dá sempre o seu banquete;
fuma ópio, é feliz;
e, entre mulheres belas,
ressona embriagado
em flácido tapete.
NATUREZA
A ANTÔNIO PARREIRAS
No centro colossal
de um mundo panteísta,
para ti é que
existe a Natureza grata;
na tua perspicaz retina
se retrata,
fiel, se reproduz
nessa tua alma artista.
Aos tímpanos,
subtil, ressoa-te a cantata
desse supremo bem
do espírito idealista,
quando vês, enlevado,
a criação purista
das entranhas
brutais surgindo, em cada mata.
Tudo nela te atrai
a interpretá-la, casta,
enquanto o teu
pincel copia, mais patentes,
encantos naturais
de uma rudeza vasta.
E tudo quanto vês,
e que, escutando, sentes,
na tela a palpitar
com vida e amor, engasta
tu'alma de pintor
no coração dos crentes.
MÃE
La bonté, c'est le fond des natnres augustes
...
Oh! l'amour d'nne mère! amour que nul
n'oublio.
V. HUGO.
Bendito seja aquele
que contempla,
com a alma aberta
em luz, toda pureza,
essa que, unida a
nós, o lar exempla,
do bem
desempenhando a santa empresa.
Oh! transportes de
amor! como é divina
a missão da
bondosa companheira!
Vela por nós, e sofre
e se amotina,
mas, nos lega de
Mãe a prova inteira.
Mártir na dor,
ditosa na alegria,
que ri conosco e
chora se choramos,
seu coração é
enorme eucaristia,
que perdoa e bendiz,
embora erramos.
Desde o berço que
embala compassiva,
reza pelo porvir
doce e sereno;
e, enquanto o
filho beija, pensativa,
n’alma lhe
esplende o olhar do Nazareno.
A Mãe-mulher
sublime, essa heroína,
sacrifica-se e
ensina com carinho;
quanto é grande, é
espinhosa sua sina,
quando os filhos
conduz ao bom caminho.
Na ara do bem, sem
mácula esculpida,
a ela só a gloria
é consagrada;
sua vida é o
alento de outra vida,
e su’alma é a
moral purificada.
Bendito seja pois
o que contempla,
com a alma aberta
em luz, toda pureza,
essa que, unida a
nós, o lar exempla,
do bem
desempenhando a santa empresa.
Mas, seja mais bendita,
eternamente,
pelos céus, por
quem reza neste instante,
aquela que abençoa
reverente,
e que sofre por
mim, além, distante....
Oh! sim, bendita a
Mãe, Mãe adorada,
a quem devo o
tributo de meu peito,
a gratidão
sincera, imaculada,
por tudo o que de
bom eu tenho feito.
PRIMAVERA
Setembro. Sobre o
dorso azul da Natureza
a Flora reaparece,
abrindo em cada planta
a verde cornucópia...
Em festa a camponesa
de grinaldas agora
enche o regaço. Canta
alegre a multidão
das aves. À clareza
do sol, abre a
cascata a liquida garganta;
tudo se revigora e
exulta; na grandeza
da força e da saúde
a terra se levanta.
Do bosque
revestido a seiva oxigenada
purifica os
pulmões e a leve atmosfera...
Fecunda-se a
Natura, e lúbrica e pejada,
do enorme ventre
expele, em férvida cratera,
insetos e animais
que, em grande debandada,
festejam bosque á
fora a nova Primavera!
Nenhum comentário:
Postar um comentário