NÃO QUERO
Um dia, passando na estrada, ouvi dois rapazitos que falavam
muito alto: Não, dizia um com voz enérgica, não quero. Parei e perguntei-lhe: -
O que é que tu não queres, meu rapaz?- Não quero dizer à mamã que venho da
escola, porque é mentira. Sei que me há de ralhar, mas antes quero que me ralhe
do que mentir. - E tens razão, disse-lhe eu. És um rapaz como se quer.
Apertei-lhe a mão, enquanto que o outro pequeno, que lhe aconselhava que se desculpasse
mentindo, ia-se embora todo envergonhado.
Daí a alguns meses, passando pela mesma aldeia e tendo de falar com o professor, entrei na escola, onde reconheci imediatamente os meus dois pequenos; o que não quis mentir, sorria-me, enquanto que o outro, vendo-me, baixou os olhos. Ao despedir-me interroguei o mestre sobre os dois alunos: Oh! disse-me ele, falando do primeiro, è um magnífico estudante, um pouco teimoso, mas honrado, sincero, sempre pronto a confessar as suas faltas e o que é ainda melhor, a repará-las. O outro pelo contrário, é mentiroso, covarde e incorrigível. - Não me espanto, disse eu, já tinha tirado o horóscopo destas duas crianças; e contei-lhe o que tinha ouvido.
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Fonte:
Guerra Junqueiro: "Contos para a Infância", Publicado originalmente
em 1877. Poeteiro Editor Digital. São Paulo, 2015. Disponível digitalmente no Projeto Livro Livre
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