BATALHAS DOMÉSTICAS
Para o meu propósito, é inútil
narrar-lhes esse pequenino e perfumado idílio, cor-de-rosa, que foi na vida de
ambos, durante um ano, o seu mais vivo encanto. Isto em Lisboa, onde ele,
Joaquim Seabra, maior, empregado de escritório comercial, vivia desde pequeno
uma furiosa vida de trabalho. A mãe tinha-lhe morrido, ainda ele era fedelho: e
passados poucos meses, tinha o Joaquim sete anos, uma doença complicada levara-lhe
também o pai — homem de lavoura, pobre mas honrado, bronco mas leal, que
nascera e levara a vida não me lembra em que aldeia da Beira, nas abas da Serra
da Estrela.
Sentindo-se morrer, o João Seabra
pediu os sacramentos. Deram-lhos. E quando o reitor ia retirar-se, grave, revestido,
aconchegando ao largo peito o vaso sagrado das partículas, solene sob a umbela
branca de grandes ramagens amarelas, o pobre homem preveniu o padre de que em podendo
lhe desejava uma palavra.
— Volto por aqui de caminho,
dissera o reitor.
Assim fez. Mas caso é que ao
abeirar-se de novo do catre do doente, junto do qual estava o Joaquim,
descalço, mal remendado, o velho, entreabrindo os olhos e cerrando-os logo para
sempre, mal tivera tempo de lhe murmurar, designando vagamente o filho:
— O pequeno, coitadinho!
De modo que foi o próprio reitor
em pessoa, quem, passados dois anos, veio meter o órfão, como marçano, numa
loja de ferragens da baixa, loja escura, funda, com uma ventana de vidraças,
combalida, dando para uns saguões de prédios contíguos. De marçano subiu com o
tempo a caixeiro; e como era aplicado, humilde, suportando com uma placidez resignada
de beirão um trabalho por vezes superior às
suas forças, pulou um dia para a escrivaninha da casa, no andar de cima,
vaga pela saída para a cadeia do outro que cometera umas falcatruas.
— Precisava um tiro nos miolos,
esse cão! dissera diante dos patrões o Joaquim.
E a incisiva frase que fora,
enquanto remexia a papelada, todo o seu comentário ao procedimento irregular do
companheiro, valera-lhe a involuntária conquista do lugar, como revelação, que
era, das qualidades fundamentais do seu caráter, — comuns, de resto, ao tipo
beirão, profundamente animal, audaz, sóbrio, musculoso, no fundo generoso e
bom.
A vida começou então a ter para
ele umas entreabertas mais risonhas, livre dessa prisão estreita da escura
loja, onde os seus instintos hereditários de independência, acordados no fundo
de uma natureza bárbara de hermínio, tinham, de quando em quando, uns bruscos,
violentos repelões de rebelião... Até que um dia, numa dessas guinadas que
mesmo à escrivaninha o assaltavam, pensou em ir à terra onde não voltara desde pequeno.
Ainda lá tinha uns tios, vivia ainda o reitor. E numa introversão de momentos,
mirando através da janela o claro céu azul, alto naquela manhã serena de Maio,
o Seabra teve a remota visão do seu passado — das coisas da sua infância, da
sua pobre e humilde aldeia encravada num declive de serrania que ao longe
elevava o dorso, nitente de neves eternas. E como se mirasse tudo através de um
binóculo invertido, ele lá via além, muito longe para as sugestões do seu desejo,
muito afastado para as débeis reminiscências da sua memória, tudo isso que ele
dizia em três palavras — «a minha terra!» — isto é, esse montão informe de
velhos tetos chamuscados onde havia um debaixo do qual nascera; o campanário
alto e esguio; a igreja oblonga; a fita branca do muro do cemitério onde seu
pai e sua mãe jaziam; a paisagem circundante cortada de canais e regueiras, que
parecem fios de prata serpeando na esmeralda das baixas, toda retalhada em
hortejos; e então a velha legião amiga das árvores — o zimbro ao alto dos
morros nus; depois, descendo, as urzes brancas; os piornos; os belos carvalhos
altivos; e já a meio da encosta, estendendo sobre a zona agrícola e hortícola o
verde e tenro pára-sol das suas soberbas folhas — o castanheiro, enfim.
Através da sua vida de balcão,
duramente mourejada a mover barras de ferro, feixes pesados de vergas, ceirões
informes de pregaria, com intermitências raras de descanso, algum Domingo,
pelas hortas dos arredores, ou às vezes
num bote, pelo Tejo, — a sensação melancólica da sua paisagem nativa não
chegara a obliterar-se-lhe no cérebro, nem tão pouco a lembrança dos seus
velhos conhecimentos de infância, dos seus companheiros de escola que iam todos
os dias, de manhã e de tarde, à lição a casa do reitor, naquele velho sótão da
residência, com paredes denegridas e teto de madeira com manchas...
E que seria feito deles? Talvez
que os não conhecesse, que o não reconhecessem, agora. Talvez. E esta dúvida,
esta desconfiança, dava ao seu desejo de os ver, de se lhes mostrar, — com o
seu fraque, a sua bengala, a sua cadeia de oiro escorrendo sobre o colete claro
— o encanto subtil e ingênuo de uma vaidade. E acabou de o decidir, enfim, a
propor aos patrões essa viagem, certa imagem de rapariga loira, olhos azuis e toda
rosada de cútis, que ele, sem quase dar por isso, espontaneamente, insensivelmente,
fora sabendo, de longe, que se conservava ainda solteira...
...a Emília!
E porque seja estranho ao meu
propósito, e quase indiferente à história que lhes vou contando, a crônica
preliminar desse consórcio, direi que a velha estola do reitor os uniu enfim
uma manhã — manhã de Julho, na velha e ampla igreja da freguesia, toda banhada
de sol, toda rumorejante de vozes, e sobre a qual caía sem despejar, como uma
chuva alegre de pétalas, a saraivada metálica dos sinos, repicando... Até que
passados dias, ei-los enfim em Lisboa, instalados não sei em que beco da Baixa,
perto da «obrigação» do Joaquim, que era, como lhes disse, o
escritório.
E aqui rompe a história; e se é
do agrado dos senhores, comecemos.
*****
Bem, aquele primeiro ano. Por uma
banda a Emília a cuidar da casa, toda se desvelando nos mínimos pormenores do
interior, na cozinha, no amanho das roupas, no decorativo, mesmo, dos quartos e
saletas que a mobília, comprada de novo, tornava alegres e confortáveis. Ele,
por outra banda, trazendo-lhe nos fins dos meses intato o seu ordenado, e trazendo-lhe,
cada dia, uma carícia mais fresca e mais suave. E dada a homogeneidade dos seus
temperamentos, a proveniência comum das suas naturezas, originárias do mesmo
solo, filhas da mesma raça, temperadas do mesmo sangue, ricas das mesmas
infiltrações de seiva e de saúde, explica-se logicamente esse paralelismo
absoluto de vontades que os dois levavam na vida, sem um choque nas suas
aspirações, sem um encontro avesso nos seus desejos, sem a mínima divergência
no seu modo de ver e de pensar. Educados em meios diferentes, embora! o que nas
suas naturezas havia de fundamental, e até de intensamente uniforme no raio visual
das suas inteligências, tornara podemos dizer nulo, sem consequências no fio
comum das suas vidas, esse largo período passado em latitudes diferentes: — ela,
onde ambos tinham nascido, debaixo do mesmo céu, à luz do mesmo sol, à
sombra das mesmas árvores; ele, sequestrado de tudo isso, mas num meio sem cor
para ele definida, pardo, estreito como uma gaiola, e onde, portanto, a sua
natureza se conservara estagnada, — estagnada como uma pequena lagoa, dormente debaixo
do luar melancólico...
Vinha daí, e do fundo ingênuo das
suas almas, estreladas das mesmas superstições, povoadas das mesmas imagens,
embaladas, ao nascerem, ao ritmo da mesma canção, essa forte, dulcíssima corrente
de ternura espiritualizada que era o motor primeiro dos seus abraços, o mais
vivo e fresco perfume dos seus beijos, a mais alta, a mais serena e orvalhada eflorescência
do seu profundo amor... E pois que havia também no sangue de ambos — bem como
no seio de um diamante as iriações mordentes — as rubras, incandescentes
faúlhas de uma animalidade impetuosa, adivinha-se quanto seria intensa nos dois
a vida sexual, — casta a despeito de tudo, vivente como um largo pâmpano,
nimbada, enfim, como certas telas clássicas, por umas cabecitas loiras de
crianças, frescas, ridentes, cor-de-rosa...
Daí, como lhes disse no
princípio, esse pequenino e perfumado idílio, cor-de-rosa, que fora na vida de
ambos, durante um ano, o seu mais vivo encanto...
*****
Em certo dia, porém, regressava o
Joaquim do escritório, noite cerrada já, quando uma rapariguita que lhes servia
de criada havia dois dias, vindo abrir a cancela, lhe desfechou estas palavras
no acento beirão:
— A minha madrinha está muito
mal.
— Muito mal?
— Sim, parece que lhe deu pela
cabeça não sei quê.
Joaquim Seabra estacou, como que
fulminado. E encostando-se à umbreira, para não cair, sentiu passar-lhe pelo
cérebro, como um tufão de peste, uma ideia que lhe fez vertigens. Teve um
pressentimento... E cobrando alentos, confuso diante da rapariguita que o
olhava, disse-lhe com a voz trêmula, no tom de quem procura, comprometido e
humilde, esconder um pensamento:
— Bem sei... Isso costuma-lhe
dar... Uns ataques... Foi depois que veio da Beira.
— Parece que lhe chamam flatos,
volveu-lhe a pequena. — Fica-se como doida...
— Sim... chamam-lhe flatos...
fica-se como doida... É isso.
E como se sentissem passos
subindo a escada, inquilino ou pessoa do andar de baixo, — talvez alguém que o
procurasse! — fechou a porta com força; e apagando a luz, com um sopro trêmulo,
coseu-se a um canto impondo silêncio, com a mão sobre a boca arquejante da
rapariga.
— Cala-te, ouviste? disse-lhe
quase com o bafo — Se te calares hei-de-te dar dinheiro. Cala-te.
A rapariga calou-se, aniquilada,
toda enroscada a um canto, como um novelo. E passados instantes, quando um
grande silêncio envolvia todo o prédio, ouvindo-se apenas, de quando em quando,
o rodar de algum trem nas ruas próximas, o Seabra tomou nos braços trêmulos a
pequena, e foi, cauteloso como um bandido, levá-la à cama.
— Ouves, Luísa? Não faças bulha.
Dorme.
E fechando-lhe a porta à chave,
respirou, hirto no meio do corredor em trevas. Devia de ser assim a sepultura:
aquele silêncio, aquela escuridão impenetrável! E ele, como um cataléptico, ali
encafuado vivo... — triturado pela mágoa, roído pela dor, desfeito pela
desgraça, como se milhões de larvas o triturassem, roessem, desfizessem, implacáveis
e cruéis, famélicas da última partícula da sua carne, sedentas da última gota
do seu sangue, famélicas e sedentas até da sua própria alma... Vivo, ó Deus
cruel! ó Deus desapiedado! Vivo e no entanto... morto: vivo para a sensação
esfaceladora da sua atroz desgraça, do seu cruel, cruciantíssimo martírio;
morto, aniquilado, desfeito, para a visão auroreal das suas esperanças... — as
suas esperanças! revoada alegre de pombas, cândidas, serenas, imaculadas, que
um tufão de desgraça varrera do ninho do seu peito, para longe e para sempre...
E humilde como um rafeiro ou como
um trapo, numa prostração de louco embriagado, dir-se-ia que o cérebro deixara
de funcionar nesse infeliz — como relógio subitamente parado, marcando um
momento fatal! — e que tudo quanto ele sentia, e que tudo, oh Deus! quanto ele
gozava! era essa impressão aniquiladora do “Nada”, que o fundia na treva circundante,
com ela identificando-o, irmanando-o, confundindo-o, e tanto e tão intimamente,
que ele próprio nela se sentia diluído, e no silêncio...
Súbito, porém, a um gemido, a um
grito, a um ranger, escoado ali de perto como um réptil, escoado ali de perto,
como um verme, fosforejante na treva à semelhança de um demônio, que agitasse
um pierrot de cascavéis, — uma
centelha de vida animou esse corpo aniquilado, e dentro daquele cérebro fez
repontar, como luz de lâmpada funérea alumiando um cenóbio silencioso, a chama
de uma ideia... E teve então de si próprio a estranha, diabólica visão de um esqueleto
carcomido, desossado, alquebrado, mirando pelo arco imóvel das órbitas, donde
dois feixes de luz escorriam — aquele trapo miserando ali caído, informe,
esquálido, repelente, montão de gelo, e lágrimas, e trevas... — que era ele
também!...
Entretanto, e como por força
mesmo dessa alucinação desvairada e trágica, o cérebro perdera nele a reta,
serena faculdade do raciocínio, ele continuava absorto, incompreendido,
estúpido, diante da «sua desgraça» — como diante de um grande mar de negrume,
profundo e estagnado, por uma noite sem lua e debaixo de um céu sem estrelas, torvo
de um burel cerradíssimo de nuvens, a sombra de um espectro... E assim em
breve, retombou nessa altitude que diremos irracional, — mudo, aniquilado,
desfeito, no meio da treva silenciosa, como no lodo fundo de um poço um bloco
inanimado...
*****
No escuro do seu cubículo, a
pequena soluçava a espaços. E era como se a própria treva soluçasse, esse
chorar abafado da criança, espavorida das coisas que a cercavam, para ela
misteriosas e fúnebres. Era como se um alegre pintassilgo, vivo, irrequieto,
palreiro, fosse do seu ramo florido de amendoeira, por uma tarde serena de
Abril, pousar, num voo de acaso, na mansarda tristonha de um morcego, em
qualquer frincha desabrigada de velho muro, abandonado algures...
E porque viera? E para que viera?
Não sabia. No entanto, ao contrário do que lhe tinham prometido, que saudade
infinita, repassada de profunda nostalgia, da telha vã do seu humilde casebre,
através do qual passavam os primeiros alvores da manhã, como um perfumado beijo
de frescura! Dois dias, apenas! Entretanto, já dois dias! Tanto tempo em tão
pouco tempo! E não tornara mais a ver pássaros! e não mais tornara a ouvir, de
manhã, tocando à missa de alva, tangendo à tarde a ave-marias, o seu querido e alegre
sino de aldeia... — além, naquela riba suave e pitoresca, prateada, beijada do
luar àquela hora!... E o fio do seu pensamento, que outrora derivava límpido,
sereno, cristalino, como pequenino arroio murmurante que vai entre duas alas de
flores singelas, torvelinhava agora estupidamente, desnorteado, ao acaso,
convertido num veio torvo, lodoso e borbulhante, soluçando, como se fora de
lágrimas, oculto sob a folhagem pálida...
*****
A dois passos, no corredor
escuro, o outro continuava prostrado, junto da porta que dava para o quarto
onde a mulher, deitada, devia talvez dormir, de borco sobre a roupa revolta, ou
no chão talvez... Mas como acontece às
tempestades da natureza, também a tempestade daquela alma de homem
entrou de se diluir em pranto, pouco a pouco, serenamente, gradualmente.
Chorou. E como se fora o véu das lágrimas que lhe não deixara ver até então os
pormenores do seu infortúnio, deste permitindo-lhe apenas uma sensação que
diremos informe, entrou de se fazer com a vazante mais lúcido o raciocínio,
mais precisa e mais esperta a ideia que se lhe acendeu no cérebro, como luz que
pouco a pouco vai surgindo na lâmpada de um claustro, alumiando nitidamente, sob
o docel frio das sombras, as arestas marmóreas de um sepulcro...
Ah! mas então, sob a impressão
raciocinada e fria da sua tragédia, cujas linhas contornais pareciam feitas de
gelo, uma nova tempestade rebentou, — como uma trovoada enorme em tarde seca de
Maio. E foram então as imprecações, os gritos estrangulados irrompendo, em
surdina, por entre as maxilas ferradas, do fundo do peito em ânsias. Então foi
o arrancar convulsivo dos cabelos, às
guinadas, teimosamente, num duelo de loucura com a dor física,
desafiando-a, espicaçando-a, dando-lhe a beber o próprio sangue do peito,
rasgado pelas dez unhas crispantes, lacerantes como se foram de abutre.
— Ah! raios do céu, e não morro!
E como o grito lhe saiu mais
alto, prestes levou ao chão, como beijando-o, os lábios estranhamente rasgados
pela cólera. Veio-lhe então o pudor melindroso da sua desgraça, o medo horrível
de que se divulgasse, de que os outros a soubessem, — de que a pequenita,
mesmo, a conhecesse... O que diriam? o que pensariam? E todo ele se encolhia, e
todo ele se sentia gelado até ao mais íntimo da sua alma, supondo-se na rua,
como outrora, ao vivo e claro sol, levando aderente às costas, como um ferrete ou como um cáustico o
olhar de «toda a gente»... E com as unhas ferradas na testa, escondia da
própria treva, com as mãos ambas, o rosto cobarde e arrepanhado.
— Diabos do Inferno! levai-me!
A este novo grito, porém, súbito
se recolheu num grande pavor religioso. Do fundo da sua natureza alguma voz se
elevou, serena, doce, harmoniosa, como na paz tranquila do campo o fumo
azul-claro de um casal... E teve a doce visão de um arco-íris, bonançoso e
rutilante, repontando luminoso no burel aspérrimo da sua alma, onde uma clareira
se abria. E foi quase a sorrir, chorando as primeiras lágrimas tranquilas, que
dos seus lábios quase serenos voou como uma pomba alvinitente, que transporta
no rosado bico um ramo de oliveira, esta palavra de amor:
— Deus!
E para logo sentiu sobre a sua
fronte, de manso e manso erguida num como enlevo de visão, um ruflar de asas de
pombas... à hora da alva... sobre os campos... numa clara manhã de Maio,
perfumada...
E como se mão invisível o
erguesse, devagar, serenamente, enxugando-lhe da orla das pálpebras a última
lágrima de sangue deposta ali pela sua alma, o pobre foi submissamente
escoando-se para o quarto contíguo, onde sua mulher estava, o seu anjo, o seu
tesouro, a sua vida... E foi submissamente, como um cão duramente batido que
volta aos afagos do dono, que sobre os lábios da adormecida esposa, secos,
pálidos, desbotados, ao claro luar vindo do céu, o triste uniu os seus lábios frementes,
—...num beijo suavíssimo de perdão. Ao mesmo tempo que ela, num delírio,
repetia a frase cruel:
— Mais vinho!
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Nota:
Trindade Coelho: "Os Meus Amores" (1891)
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