ÚLTIMA CORRIDA DE TOURO EM
SALVATERRA
O senhor d. José, primeiro do
nome, era em Salvaterra um rei em férias. A verdade é que os maldizentes
notavam, em segredo, que sua majestade em Lisboa estava sempre ao torno e o
marquês de Pombal no trono. O prolóquio fundava- se na habilidade mecânica do
monarca como torneiro, e no caráter dominador do marquês como ministro.
Vicejavam os campos em plena
primavera. A amendoeira cobria-se de flores, os bosques enfolhavam-se, as
veigas vestiam-se e matizavam-se, e a brisa doidejava indiscreta arregaçando o
lenço à donzela que passava, ou roubando um beijo à rosa perfumada. Tudo eram
alegrias e cânticos... os rouxinóis nas moitas, o coração nos amores, e a
natureza nos sorrisos ao sol esplêndido que a dourava.
Uma tourada real chamara a corte
a Salvaterra. Os fidalgos respiravam nestas ocasiões menos oprimidos. Não os
assombrava tão de perto a privança do ministro. Os touros eram bravos, os
cavaleiros destros, o anfiteatro pomposo, e o cortejo das damas adorável. O prazer
ria na boca de todos. Por cúmulo de venturas o marquês de Pombal ficara em
Lisboa, retido pelo conflito com o embaixador de Espanha.
Contava-se em segredo nos
recantos do palácio o diálogo travado entre o enviado castelhano e o secretário
de Estado português, louvando-o uns em alta voz, para os ecos daquelas paredes
repetirem o elogio, crucificando-o outros sem piedade, para saciarem os ódios.
As devotas e os fidalgos puritanos eram pelo espanhol, e pediam a Deus que os
rebates da guerra próxima despenhassem o plebeu nobilitado. Os magistrados e os
homens de capa e volta defendiam o marquês e respondiam com meios sorrisos às
fogosas jaculatórias dos zelosos do trono e do altar. O marquês de Pombal
tinha-se negado com firmeza às concessões exigidas imperiosamente pelo governo
castelhano.
— Muito bem — atalhou o
embaixador —, um exército de sessenta mil homens entrará em Portugal e fará...
— O quê? — perguntara o marquês
sorrindo-se com a tremenda luneta assestada e no tom mais indiferente.
— Fará entender a razão e a
justiça de el-rei, meu amo, a sua majestade e a vossa excelência! — redargüiu
meia oitava acima o espanhol, supondo o ministro fulminado.
Sebastião José de Carvalho
franziu as sobrancelhas, carregou a viseira, e cravando a vista e a luneta no
diplomata, retorquiu-lhe friamente:
— Sessenta mil homens muita gente
é para casa tão pequena, mas, querendo Deus, el-rei, meu amo e meu senhor,
sempre há de achar onde possa hospedá-la. Mais pequena era Aljubarrota e lá
couberam os que d João de Castela trouxe. Vossa excelência pode responder isto
ao seu governo.
E, levantando-se para despedir o
embaixador, acrescentou:
— Bem sabe vossa excelência que
pode tanto cada um em sua casa, que mesmo depois de morto são precisos quatro
homens para o tirarem!
O embaixador saiu jurando por Dios y la Virgen Santisima e o marquês
preparou-se para a guerra. O caso é, como dizia nosso Zeferino na Sobrinha do Marquês, que Sebastião José
de Carvalho foi um grande ministro e que fez muito pela nação. Hoje há menos
quem responda assim à letra às ameaças dos estrangeiros. Berra-se muito,
dorme-se a sono solto ao som dos hinos patrióticos, e depois salva o castelo de
madrugada e está salva a pátria!
O marquês de Pombal prezava as
artes e protegia e animava as classes médias. Esse pouco, que o reino progrediu
deveu-se a ele. Se a indústria nunca acabou de sair da infância, a culpa quase
toda foi dos maus governos que sucederam ao seu, e também do povo que não quis
trabalhar deveras... Mas vamos aos touros reais. Desses é que o ministro não
gostava nada. Queria-os ao arado e não à farpa, e parecia-lhe melhor, que os
toureadores, sendo fidalgos, servissem o Estado com a pena ou com a espada, e,
sendo mecânicos, que lavrassem, tecessem e ganhassem honradamente a vida,
enriquecendo-se a si e à nação.
Mas el-rei d. José, cedendo em
tudo ao marquês, quanto aos touros não admitia reflexões. Nisto era rei a valer
e Bragança legítimo. Os fidalgos sabiam-no e por isso desfrutavam doces
prazeres — a satisfação do gosto nacional, e a contradição da vontade do
ministro. Desatendê-la sem perigo e pela mão do soberano era para eles um
deleite e um triunfo.
Nestas funções não vigorava a
severidade das últimas pragmáticas. Outro motivo de júbilo. Quem queria podia
arruinar-se em luxuosos vestidos, enfeites e toucados. As bordaduras e os
recantos de ouro, os veludos e sedas de fora, talhados à francesa,
resplandeciam constelados de pérolas e diamantes. Por cima dos mais ricos
trajes e das mais vistosas cores desenrolavam-se os anéis ondeados das empoadas
cabeleiras. As damas ostentavam as graças de seus donaires e tufados, e
emoldurando o belo oval dos rostos nos penteados caprichosos sorriam-se para os
gentis campeadores, e seus olhos cheios de luz e de promessas estimulavam até
os tímidos.
Correram-se as cortinas da
tribuna real. Rompem as músicas. Chegou el-rei, e logo depois entra pelos
camarotes o vistoso cortejo, e vê-se ondear um oceano de cabeças e plumas. Na
praça ressoam com brava alegria as trombetas, as charamelas e os timbres. parecem
os cavaleiros, fidalgos distintos todos, com o conto das lanças nos estribos e
os brasões bordados no veludo das gualdrapas dos cavalos. As plumas dos chapéus
debruçam-se em matizados cocares, e as espadas em bainhas lavradas pendem de
soberbos tabus. Os capinhas e forcados vestem com garbo à castelhana antiga. No
semblante de todos brilha o ardor e o entusiasmo.
O conde dos Arcos, entre os
cavaleiros, era quem dava mais na vista. O seu traje, cortado à moda da corte
de Luís XV, de veludo preto, fazia realçar a elegância do corpo. Na gola da
capa e no corpete sobressaíam as finas rendas da gravata e dos punhos. Nos
joelhos as ligas bordadas deixavam escapar com artifício os tufos de cambraieta
alvíssima. O conde não excedia a estatura ordinária; mas esbelto e
proporcionado, todos os seu movimentos eram graciosos. As faces eram talvez
pálidas de mais, porém animadas de grande expressão, e o fulgor das pupilas
negras fuzilava tão vivo e por vezes tão recobrado, que se tornava
irresistível. Filho do marquês de Marialva, e discípulo querido de seu pai, do
melhor cavaleiro de Portugal, e talvez da Europa, a cavalo, a nobreza e a
naturalidade do seu porte enlevavam os olhos. Ele e o corcel, como que
ajustados em uma só peça, realizavam a imagem do centauro antigo.
A bizarria com que percorreu a
praça, domando sem esforço o fogoso corcel, arrancou prolongados e repetidos
aplausos. Na terceira volta, obrigando o cavalo quase a ajoelhar-se diante de
um camarote, fez que uma dama escondesse turvada no lenço as rosas vivíssimas
do rosto, que decerto descobririam o melindroso segredo da sua alma, se em
momentos rápidos como o faiscar do relâmpago pudesse alguém adivinhar o que só
dois sabiam.
El-rei, quando o mancebo o
cumprimentou pela última vez, sorriu-se, e disse voltando-se:
— Por que virá o conde quase de
luto à festa?
Principiou o combate.
Não é propósito nosso
descrevermos uma corrida de touros. Todos têm assistido a elas e sabem de
memória o que o espetáculo oferece de notável. Diremos só que a raça dos bois
era apurada, e que os touros se corriam desembolados, à espanhola. Nada
diminuía, portanto, as probabilidades do perigo e a poesia da luta.
Tinham-se picado alguns bois.
Abriu-se de novo a porta do curro, e um touro preto investiu com a praça. Era
um verdadeiro boi de circo. Armas compridas e reviradas nas pontas, pernas
delgadas e nervosas, indício de grande ligeireza, e movimentos rápidos e
bruscos, sinal de força prodigiosa. Apenas tocara o centro da praça, estacou
como deslumbrado, sacudiu a fronte e escarvando a terra impaciente, soltou um mugido
feroz no meio do silêncio, que sucedera às palmas e gritos dos espectadores.
Dentro em pouco os capinhas, salvando a pulos as trincheiras, fugiam a
velocidade espantosa do animal, e dois, ou três cavalos expirantes denunciavam
a sua fúria.
Nenhum dos cavaleiros se atreveu
a sair contra ele. Fez-se uma pausa. O touro pisava a arena ameaçador e parecia
desafiar em vão um contendor. De repente viu-se o conde dos Arcos firme na sela
provocar o ímpeto da fera e a hástea flexível do rojão ranger e estalar,
embebendo o ferro no pescoço musculoso do boi. Um rugido tremendo, uma
aclamação imensa do anfiteatro inteiro, e as vozes triunfais das trombetas e
chamarelas encerraram esta sorte brilhante. Quando o nobre mancebo passou a
galope por baixo do camarote, diante do qual pouco antes fizera ajoelhar o
cavalo, a mão alva e breve de uma dama deixou cair uma rosa, e o conde
curvando-se com donaire sobre os arções, apanhou a flor do chão sem afrouxar a
carreira, levou-a aos lábios, e meteu-a no peito. Investindo depois com o
touro, tornado imóvel com a raiva concentrada, rodeou-o estreitando em volta
dele os círculos até chegar quase a pôr-lhe a mão na, anca.
O mancebo desprezava o perigo e
pago até da morte pelos sorrisos, que seus olhos fitavam de longe, levou o
arrojo a arrepiar a testa do touro com a ponta da lança. Precipitou-se então o
animal com fúria cega e irresistível. O cavalo baqueou traspassado e o
cavaleiro, ferido na perna, não pôde levantar-se. Voltando sobre ele o boi
enraivecido arremessou-o aos ares, esperou-lhe a queda nas armas, e não se
arredou senão quando, assentando-lhe as patas sobre o peito, conheceu que o seu
inimigo era um cadáver.
Este doloroso lance ocorreu com a
velocidade do raio. Estava já consumada a tragédia e não havia expirado ainda o
eco dos últimos aplausos.
De repente um silêncio em que se
conglobavam milhares de agonias emudeceu o circo. Rei, vassalos e damas, meio
corpo fora dos camarotes, fitavam a praça sem respirar e erguiam logo depois a
vista a céu como para seguir a alma que para lá voava envolta em sangue.
Quando o mancebo, dobrado no ar,
exalava a vida antes de tocar o chão, um gemido agudo, composto de soluços e
choro, caiu sobre o cadáver como uma lágrima de fogo. Uma dama desmaiada nos
braços de outras senhoras soltara aquele grito estridente, derradeiro ai do
coração ao rebentar no peito.
El-rei d. José, com as mãos no
rosto, parecia petrificado. A corte desta vez acompanhava-o sinceramente na sua
dor.
Mas o drama ainda não tinha
concluído. Quem sabe?! O terror e a piedade iam cortar de novas mágoas o peito
a todos.
O marquês de Marialva assistira a
tudo do seu lugar. Revendo-se na gentileza do filho, seus olhos seguiam-lhe os
movimentos brilhando radiosos a cada sorte feliz. Logo que entrou o touro
preto, carregou-se de uma nuvem o semblante do ancião. Quando o conde dos Arcos
saiu a farpeá-lo, as feições do pai contraíram-se e a sua vista não se
despregou mais da arriscada luta.
De repente o velho soltou um
grito sufocado e cobriu os olhos, apertando depois as mãos na cabeça. Os seus
receios haviam-se realizado. Cavalo e cavaleiro rolavam na arena, e a esperança
pendia de um fio tênue! Cortou-lho rapidamente a morte, e o marquês, perdido o
filho, luz da sua alma e ufania de suas cãs, não proferiu uma palavra, riem
derramou uma lágrima; mas os joelhos fugiam-lhe trêmulos, e a elevada estatura
inclinou-se vergando ao peso da mágoa excruciante.
Volveu, porém, em si decorridos
momentos. A lívida palidez do rosto tingiu-se de vermelhidão febril
subitamente. Os cabelos desgrenhados e hirtos revolveram-se-lhe na fronte
inundada de suor frio como as sedas da juba de um leão irritado. Nos olhos
amortecidos faiscou instantâneo, mas terrível, o sombrio clarão de uma cólera, em
que todas as ânsias insofridas da vingança se acumulavam.
Em um ímpeto a presença reassumiu
as proporções majestosas e eretas como se lhe corre nas veias o sangue do
mancebo que perdera. Levando por ato instintivo a mão ao lado, para arrancar da
espada, meneou tristemente a cabeça.
A sua boa espada, cingira-a ele
próprio ao filho neste dia que se convertera para a sua casa em dia de eterno
luto.
Sem querer ouvir nada, desceu os
degraus do anfiteatro, seguro e resoluto como se as neves de setenta anos lhe
não branqueassem a cabeça.
— Sua majestade ordena ao marquês
de Marialva, que aguarde as suas ordens! — disse um camarista detendo-o pelo
braço.
O velho estremeceu como se
acordasse sobressaltado, e cravou no interlocutor os olhos desvairados, em que
reluzia o fulgor concentrado dum pensamento imutável. Desviando depois a mão,
que o suspendia, baixou mais dois degraus.
— Sua majestade entende que este
dia foi já bastante desgraçado e não quer perder nele dois vassalos.. . O
marquês desobedece às ordens de el-rei?!...
— El-rei manda nos vivos e eu vou
morrer! — atalhou o ancião em voz áspera, mas sumida, Aquele é o corpo de meu
filho! — e apontava para o cadáver. — Está ali! Sua majestade pode tudo menos
desarmar o braço do pai, menos desonrar os cabelos brancos do criado que o
serve há tantos anos. Deixe-me passar, e diga isto.
D. José vira o marquês
levantar-se e percebera a sua resolução. Amava no estribeiro-mor as virtudes e
a lealdade nunca desmentidas. Sabia que da sua boca não ouvira senão a verdade,
e a idéia de o perder assim era-lhe insuportável. Apenas lhe constou que ele
não acedia à sua vontade, fez-se branco, cerrou os dentes convulso, e,
debruçado para fora da tribuna, aguardou em ansioso silêncio o desfecho da
catástrofe.
A esse tempo já o marquês pisava
a praça, firme e intrépido como os antigos romanos diante da morte.
Dentro do peito o seu coração
chorava, mas os olhos áridos queimavam as lágrimas quando subiam a rebentar por
eles. Primeiro do que tudo queria a vingança.
Por impulso instantâneo, todo o
ajuntamento se pôs de pé. Os semblantes consternados e os olhos arrasados de
água exprimiam aquela dolorosa contenção de espírito, em que um sentido parece
concentrar todos.
Deixai-o ir ao velho fidalgo! A mágoa, que o traspassa; não
tem igual. O fogo, que lhe presta vida e forças, é a desesperação. Deixai-o ir,
e de joelhos! Saudai a majestade do infortúnio!
O pai angustiado ajoelhou junto
do corpo do filho e pousou-lhe um ósculo na fronte. Desabrochou-lhe depois o
talim e cingiu-o, levantou-lhe do chão a espada e correu-lhe a vista pelo fio e
pela ponta de dois gumes. Passou depois a capa no braço e cobriu-se. Decorridos
instantes estava no meio da praça e devorava o touro com a vista chamejante,
provocando-o para o combate.
Cortado de emoções tão cruéis,
não lhe tremia o braço, e os pés arraigavam-se na arena como se um poder oculto
e superior lhos tivesse ligado repentinamente à terra.
Fez-se no circo um silêncio
gélido, tremendo e tão profundo, que poderiam ouvir-se até as pulsações do
coração do marquês se naquela alma de bronze o coração valesse mais do que a
vontade.
O touro arremete contra ele... -
Uma e muitas vezes o investe cego e irado, mas a destreza do marquês esquiva
sempre a pancada.
Os ilhais da fera arfam de fadiga,
a espuma franja-lhe a boca, as pernas vergam e resvalam, e os olhos amortecem
de cansaço. O ancião zomba da sua fúria. Calculando as distâncias, frustra-lhe
todos os golpes sem recuar um passo.
O combate demora-se.
A vida dos espectadores resume-se
nos olhos. Nenhum ousa desviar a vista de cima da praça.
A imensidade da catástrofe
imobiliza todos.
De súbito solta el-rei um grito e
recolhe-se para dentro da tribuna. O velho aparava a peito descoberto a marrada
do touro, e quase todos ajoelharam para rezarem por alma do último marquês de
Marialva. A aflitiva pausa apenas durou momentos. Por entre as névoas, de que a
pupila trêmula se embaciava, viu-se o homem crescer para a fera, a espada
fuzilar nos ares e logo após sumir-se até aos copos entre a nuca do animal.
Um bramido, que atroou o circo, e
o baque do corpo agigantado na arena, encerraram o extremo ato do funesto
drama.
Clamores uníssonos saudaram a
vitória. O marquês, que tinha dobrado o joelho, com a força do golpe
levantava-se mais branco do que -um cadáver. Sem fazer caso dos que o rodeavam,
tomou a abraçar-se com o corpo do filho, banhando-o de lágrimas e cobrindo-o de
beijos.
O touro ergueu-se, e, cambaleando
com a sezão da morte, veio apalpar o sítio onde queria expirar. Ajuntou ali os
membros e deixou-se cair sem vida ao lado do cavalo do conde dos Arcos.
Nesse momento os espectadores
olhando para a tribuna real estremeceram. El-rei, de pé e muito pálido, tinha
junto de si o marquês de Pombal, coberto de pó e com sinais de ter viajado depressa.
Sebastião José de Carvalho
voltava de propósito as costas. à praça falando com o monarca. Punia assim a
barbaridade 1o circo.
— Temos guerra com a Espanha,
senhor. inevitável. Vossa majestade não pode consentir que os touros lhe matem
o tempo e os vassalos. Se continuássemos neste caminho... cedo iria Portugal à
vela.
— Foi a última corrida, marquês.
A morte do conde dos Arcos acabou os touros reais enquanto eu reinar.
— Assim o espero da sabedoria de
vossa majestade. Não há tanta gente nos seus reinos, que possa dar-se um homem
por um touro. El-rei consente que vá em seu nome consolar o marquês de
Marialva?
— Vá! pai. Sabe o que há de
dizer-lhe...
— O mesmo que ele me diria a mim,
se Henrique estivesse como está o conde.
El-rei saiu da tribuna, e o
marquês de Pombal, entrando na praça em toda a majestade de sua elevada
estatura, levantou nos braços o velho fidalgo, dizendo-lhe com voz meiga e
triste:
— Senhor marquês! Os portugueses
como vossa excelência são para darem exemplos de grandeza de alma e não para os
receberem. Tinha um filho e Deus levou-lho. Altos juízos seus! A Espanha
declara-nos a guerra, e el-rei, meu amo e meu senhor, precisa do conselho e da
espada de vossa excelência.
E travando-lhe da mão, levou-o
quase nos braços até o meterem na carruagem.
D. José I cumpriu a palavra dada
ao seu ministro. No seu reinado nunca mais se picaram touros reais em
Salvaterra.
---
Nota:
Texto-fonte: Rebelo da Silva: “Contos e Lendas”, de 1866, da edição publicada em 1973 pela Editora Três
Nota:
Texto-fonte: Rebelo da Silva: “Contos e Lendas”, de 1866, da edição publicada em 1973 pela Editora Três
Nenhum comentário:
Postar um comentário