ASSALTARAM A GRAMÁTICA
(Assaltaram a
gramática
Assassinaram a
lógica
Meteram poesia
na bagunça do dia
a dia
Sequestraram a
fonética
Violentaram a
métrica
Meteram poesia
onde devia e não
devia
Lá vem o poeta
com sua coroa de
louro,
Agrião, pimentão,
boldo
O poeta é a
pimenta
do planeta!
(Malagueta!)
DEVENIR, DEVIR
Término de leitura
de um livro de
poemas
não pode ser o
ponto final.
Também não pode
ser
a pacatez burguesa
do
ponto seguimento.
Meta desejável:
alcançar o
ponto de ebulição.
Morro e
transformo-me.
Leitor, eu te
reproponho
a legenda de
Goethe:
Morre e devém
Morre e
transforma-te.
A VIDA É CÓPIA DA ARTE
Areia
Pedra
Ancinho
Jardins de Kioto
Alucinado pelo
destemor
De morrer antes
De ver diagramado
este poema
Ou eu trago
Horácio pra cá
Pra Macaé-de-Cima
Ou é imperativo
traí-lo
E ao preceito
latino de coisa alguma admirar
Sapo
Vaga-lume
Urutau
Estrela
Nestes ermos
cravar as tendas de Omar
Ler poesia como se
mirasse uma flor de lótus
Em botão
Entreabrindo-se
Aberta
Anacreonte
Fragmentos de Safo
Hinos de Hörderlin
Odes de Reis
El jardín de
senderos que se bifurcan
Jardim de Epicuro
Éden
Agulhas imantadas
& frutas frescas para a vida diária.
FÁBRICA DO POEMA
sonho o poema de
arquitetura ideal
cuja própria nata
de cimento encaixa palavra por
palavra,
tornei-me perito
em extrair faíscas das britas
e leite das
pedras.
acordo.
e o poema todo se
esfarrapa, fiapo por fiapo.
acordo.
o prédio, pedra e
cal, esvoaça
como um leve papel
solto à mercê do vento
e evola-se, cinza
de um corpo esvaído
de qualquer
sentido.
acordo,
e o poema-miragem
se desfaz
desconstruído como
se nunca houvera sido.
acordo!
os olhos chumbados
pelo mingau das
almas e os ouvidos moucos,
assim é que saio
dos sucessivos sonos:
vão-se os anéis de
fumo de ópio
e ficam-se os
dedos estarrecidos.
sinédoques,
catacreses,
metonímias,
aliterações, metáforas, oxímoros
sumidos no
sorvedouro.
não deve adiantar
grande coisa
permanecer à
espreita no topo fantasma
da torre de vigia.
nem a simulação de
se afundar no sono.
nem dormir
deveras.
pois a
questão-chave é:
…..sob que máscara
retornará o recalcado?
(mas eu figuro meu
vulto
caminhando até a
escrivaninha
e abrindo o
caderno de rascunho
onde já se
encontra escrito
que a palavra “recalcado”
é uma expressão
por demais
definida, de sintomatologia cerrada:
assim numa
operação de supressão mágica
vou rasurá-la
daqui do poema.)
pois a
questão-chave é:
…..sob que máscara
retornará?
AMANTE DA ALGAZARRA
Não sou eu quem dá
coices ferradurados no ar.
É esta estranha
criatura que fez de mim seu encosto.
É ela !!!
Todo mundo sabe,
sou uma lisa flor de pessoa,
Sem espinho de
roseira nem áspera lixa de folha de figueira.
Esta amante da
balbúrdia cavalga encostada ao meu sóbrio ombro
Vixe!!!
Enquanto caminho a
pé, pedestre -- peregrino atônito até a morte.
Sem motivo nenhum
de pranto ou angústia rouca ou desalento:
Não sou eu quem dá
coices ferradurados no ar.
É esta estranha
criatura que fez de mim seu encosto
E se apossou do
estojo de minha figura e dela expeliu o estofo.
Quem corre
desabrida
Sem ceder a concha
do ouvido
A ninguém que dela
discorde
É esta
Selvagem sombra
acavalada que faz versos como quem morde.
Nenhum comentário:
Postar um comentário