FLOR DE PESSEGUEIRO
A melindrosa flor de pessegueiro
Deixei-a,
como dádiva de amores,
A essa que
tem o rosto feiticeiro
E os
lábios cor das purpurinas flores.
E a tímida
andorinha, de asas quietas,
Dei-a
também como lembrança minha,
A essa que
tem as sobrancelhas pretas,
Iguais às
asas da andorinha.
No dia
imediato a flor morria,
E a
andorinha voava, entre esplendores,
Sobre a
Grande Montana onde vivia
O Gênio
oculto que preside às flores.
Mas nos
seus lábios, como a flor abrindo,
Conserva a
mesma carnação,
E não
voaram, pelo azul fugindo
As asas
negras dos seus olhos, não!
PÁLIDA E LOIRA
Morreu. Deitada num caixão estreito,
pálida e
loira, muito loira e fria,
o seu
lábio tristíssimo sorria
como num
sonho virginal desfeito.
Lírio que
murcha ao despontar do dia,
foi
descansar no derradeiro leito,
as mãos de
neve erguidas, sobre o peito,
pálida e
loira, muito loira e fria.
Tinha a
cor da rainha das baladas
e das
monjas antigas maceradas
no
pequenino esquife em que dormia.
Levou-a a
morte em sua garra adunca,
e eu nunca
mais pude esquecê-la, nunca!
pálida e
loira, muito loira e fria.
A UMA MULHER FORMOSA
Nas
límpidas canções que me inspiraste
ao som da
flauta d'ébano cantadas,
narrava as
minhas mágoas desoladas,
mas tu não
me escutaste!
Depois
compus estâncias primorosas,
que leste
em carinho e sem ternura,
lançando
ao rio as páginas formosas
onde eu
cantava a tua formosura.
Quis ser
então mais fino e mais amável:
dei-te um
presente fabuloso e raro,
uma enorme
safira comparável
a um céu
noturno imensamente claro.
E em paga
d'essa joia deslumbrante,
d'esse
primor, d'uma riqueza louca,
mostraste-me,
sorrindo um só instante,
as
pequeninas pérolas da boca.
SALGUEIRO
Adoro esta
mulher moça e formosa,
Que à
janela, a sonhar, vejo esquecida,
Não por
ter uma casa suntuosa
Junto ao
Rio Amarelo construída…
- Amo-a
porque uma folha melindrosa
Deixou
cair nas águas distraída.
Também
adoro a brisa do Levante
Não por
trazer a essência virginal
Do
pessegueiro que floriu distante,
No pendor
da Montanha Oriental…
- Amo-a
porque impeliu a folha errante
Ao meu
batel no lago de cristal.
E adoro a
folha, não por ter lembrado
A nova
primavera que rompeu,
Mas por
causa de um nome idolatrado
Que essa
jovem mulher n’ela escreveu
Com a
doirada agulha do bordado…
E esse
nome… era o meu!
FÁBULA ANTIGA
No
princípio do mundo o Amor não era cego;
Via mesmo
através da escuridão cerrada
Com
pupilas de Lince em olhos de Morcego.
Mas um
dia, brincando, a Demência, irritada,
Num ímpeto
de fúria os seus olhos vazou;
Foi a
Demência logo às feras condenada,
Mas
Júpiter, sorrindo, a pena comutou.
A Demência
ficou apenas obrigada
A
acompanhar o Amor, visto que ela o cegou,
Como um
pobre que leva um cego pela estrada.
Unidos
desde então por invisíveis laços
Quando a
Amor empreende a mais simples jornada,
Vai a
Demência adiante a conduzir-lhe os passos.
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Fonte
"Toda a Poesia: Antologia Poética". Poeteiro Editor Digital. São Paulo, 2015.
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