ISMÁLIA
Quando
Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na
torre a sonhar...
Viu uma
lua no céu,
Viu outra
lua no mar.
No sonho
em que se perdeu,
Banhou-se
toda em luar...
Queria
subir ao céu,
Queria
descer ao mar...
E, no
desvario seu,
Na torre
pôs-se a cantar...
Estava
perto do céu,
Estava
longe do mar...
E como um
anjo pendeu
As asas
para voar...
Queria a
lua do céu,
Queria a
lua do mar...
As asas
que Deus lhe deu
Ruflaram
de par em par...
Sua alma
subiu ao céu,
Seu corpo
desceu ao mar...
OSSA MEA
Mãos de
finada, aquelas mãos de neve,
De tons
marfíneos, de ossatura rica,
Pairando
no ar, num gesto brando e leve,
Que parece
ordenar mas que suplica.
Erguem-se
ao longe como se as eleve
Alguém que
ante os altares sacrifica:
Mãos que
consagram, mãos que partem breve,
Mas cuja
sombra nos meus olhos fica...
Mãos de esperança
para as almas loucas,
Brumosas
mãos que vêm brancas, distantes,
Fechar ao
mesmo tempo tantas bocas...
Sinto-as
agora, ao luar, descendo juntas,
Grandes,
magoadas, pálidas, tateantes,
Cerrando
os olhos das visões defuntas...
PULCHRA UT
LUNA
Celeste...
É assim, divina, que te chamas.
Belo nome
tu tens, Dona Celeste...
Que outro
terias entre humanas damas,
Tu que
embora na terra do céu vieste?
Celeste...
E como tu és do céu não amas:
Forma
imortal que o espírito reveste
De luz,
não temes sol, não temes chamas,
Porque és
sol, porque és luar, sendo celeste.
Incoercível
como a melancolia,
Andas em
tudo: o sol no poente vasto
Pede-te a
mágoa do findar do dia.
E a lua,
em meio à noite constelada,
Pede-te o
luar indefinido e casto
Da tua
palidez de hóstia sagrada.
ÁRIAS E CANÇÕES
A suave
castelã das horas mortas
Assoma à
torre do castelo. As portas,
Que o
rubro ocaso em onda ensanguentara,
Brilham do
luar à luz celeste e clara.
Como em
órbitas de fatias caveiras
Olhos que
fossem de defuntas freiras,
Os astros
morrem pelo céu pressago...
São como
círios a tombar num lago.
E o céu,
diante de mim, todo escurece...
E eu que
nem sei de cor uma só prece!
Pobre
alma, que me queres, que me queres?
São assim
todas, todas as mulheres.
TERCEIRA DOR
É Sião que
dorme ao luar. Vozes diletas
Modulam
salmos de visões contritas...
E a sombra
sacrossanta dos Profetas
Melancoliza
o canto dos levitas.
As torres
brancas, terminando em setas,
Onde
velam, nas noites infinitas,
Mil
guerreiros sombrios como ascetas,
Erguem ao
Céu as cúpulas benditas.
As virgens
de Israel as negras comas
Aromatizam
com os unguentos brancos
Dos
nigromantes de mortais aromas...
Jerusalém,
em meio às Doze Portas,
Dorme: e o
luar que lhe vem beijar os flancos
Evoca
ruínas de cidades mortas.
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Fonte:
"Toda a Poesia: Antologia Poética". Poeteiro Editor Digital. São Paulo, 2015.
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