ESTELA E NISE
Eu vi a
linda Estela, e namorado
Fiz logo
eterno voto de querê-la;
Mas vi
depois a Nise, e é tão bela,
Que merece
igualmente o meu cuidado.
A qual
escolherei, se neste estado
Não posso
distinguir Nise d'Estela?
Se Nise
vir aqui, morro por ela;
Se Estela
agora vir, fico abrasado.
Mas, ah!
que aquela me despreza amante,
Pois sabe
que estou preso em outros braços,
E esta não
me quer por inconstante.
Vem,
Cupido, soltar-me destes laços,
Ou faz de
dois semblantes um semblante,
Ou divide
o meu peito em dois pedaços!
A LÁSTIMA
Na masmorra da Ilha das Cobras,
lembrando-se da família
Eu não
lastimo o próximo perigo,
Nem a
escura prisão estreita e forte;
Lastimo os
caros filhos e a consorte,
A perda
irreparável de um amigo.
A prisão
não lastimo, outra vez digo,
Nem o ver
iminente o duro corte;
É ventura
também achar a morte
Quando a
vida só serve de castigo.
Ah! quão
depressa então acabar vira
Este
sonho, este enredo, esta quimera,
Que passa
por verdade e é mentira.
Se filhos
e consorte não tivera,
E do amigo
as virtudes possuíra,
Só de vida
um momento não quisera.
A MARIA IFIGÊNIA
Amada
filha, é já chegado o dia,
Em que a
luz da razão, qual tocha acesa,
Vem
conduzir a simples natureza:
— É hoje
que teu mundo principia.
A mão que
te gerou, teus passos guia;
Despreza
ofertas de uma vã beleza,
E
sacrifica as honras e a riqueza
Às santas
leis do Filho de Maria.
Estampa na
tu alma a Caridade,
Que amar a
Deus, amar aos semelhantes,
São
eternos preceitos de verdade;
Tudo o
mais são idéias delirantes;
Procura
ser feliz na Eternidade,
Que o
mundo são brevíssimos instantes.
À D. BÁRBARA HELIODORA
Bárbara
bela, do Norte estrela,
Que o meu
destino sabes guiar,
De ti
ausente triste somente
As horas
passo a suspirar.
Por entre
as penhas de incultas brenhas
Cansa-me a
vista de te buscar;
Porém não
vejo Mais que o desejo,
Sem
esperança de te encontrar.
Eu bem
queria a noite e o dia
Sempre
contigo poder passar;
Mas
orgulhosa sorte invejosa,
Desta
fortuna me quer privar.
Tu, entre
os braços, ternos abraços
Da filha
amada podes gozar;
Priva-me a
estrela de ti e dela,
Busca dous
modos de me matar!
DE AÇUCENAS E ROSAS MISTURADAS
De
açucenas e rosas misturadas
não se
adornam as vossas faces belas,
nem as
formosas tranças são daquelas
que dos
raios do sol foram forjadas.
As meninas
dos olhos delicadas,
verde,
preto ou azul não brilha nelas;
mas o
autor soberano das estrelas
nenhumas
fez a elas comparadas.
Ah, Jônia,
as açucenas e as rosas,
a cor dos
olhos e as tranças d'oiro
podem
fazer mil Ninfas melindrosas;
Porém
quanto é caduco esse tesoiro:
vós, sobre
a sorte toda das formosas,
inda
ostentais na sábia frente o loiro!
Fonte:
"Toda a Poesia: Antologia Poética". Poeteiro Editor Digital. São Paulo, 2015.
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