A SOLIDARIEDADE DE AL-BANDEIRAH
CONTOS ARGELINOS
Dos principados vassalos que
constituíam o reino de Al-Patak não foi só Al-Bandeirah que não quis reconhecer
Abu-Al-Dhudut como sultão.
O canato de Hbaya também, por
intermédio do seu príncipe reinante, sempre protestou contra a usurpação. Ao
contrário do primeiro, esse principado era trabalhado por grandes dissensões
internas. Havia mais de cinco ou seis pretendentes ao seu trono e não existia
entre os seus habitantes nenhuma harmonia de vistas.
A população com o seu gênio
vivaz, com a sua queda para a eloqüência, com a sua ligeireza de espírito,
muito concorria para essas divisões e ela é de gênio muito oposto à de Al-Bandeirah,
cuja gente é tardia, taciturna e cheia de um ingênuo orgulho de que são os
primeiros de Al-Patak. Explorado habilmente, pelos governantes, esse último
sentimento da população daquela província, foi-lhes sempre fácil obter dela uma
quase unanimidade. Faziam uma ponte, uma torre, um bueiro e logo mandavam
proclamar que era o primeiro de Al-Patak. O povo do canato é ingênuo, como um
alemão, acreditava na cousa, ficava muito contente e escolhia para as altas
funções os membros de três ou quatro famílias que o exploravam.
Dessa forma, toda a resistência à
usurpação de Abu-Al-Dhudut estava centralizada em Al-Bandeirah.
Acontece, porém, que, ao
contrário do que era de esperar, Hbaya demonstrou mais firmeza e o seu governo
chegou a resistir às tropas que o invadiram, com armas na mão.
A cousa foi dolorosa e triste,
pois a capital de Hbaya foi bombardeada, as suas casas incendiadas, o príncipe
reinante andou daqui para ali, fugindo à sanha dos soldados de Abu-Al-Dhudut.
Infelizmente, devido às facções
que dividiam a gloriosa província, a resistência não pôde ser eficaz e foi
quase nula em resultados.
Esse episódio comovedor do
bombardeamento da capital de Hbaya se deu justamente no dia em que o príncipe
irmão de Abu-Al-Dhudut recebia no tesouro de Al-Bandeirah trezentos e cinqüenta
mil piastras, que, como já é sabido, ficavam reduzidas a trezentos e quinze
mil.
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Nota:
Lima Barreto: "Histórias e Sonhos" (1920)
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