A FIRMEZA DE AL-BANDEIRAH
CONTOS ARGELINOS
Abu-Al-Dhudut não usurpou o trono
de AI-Patak sem que houvesse grande oposição por parte dos espíritos eminentes
e mesmo de províncias inteiras do país.
A todas estas, ele subjugou e
dominou, excetuando o canato de AI-Bandeirah cuja riqueza e prosperidade eram
muito admiradas no país.
Esse canato era governado por
quatro ou cinco famílias que, sob o pretexto de terem feito a independência de
Al-Patak e o proclamado sultanato, se sucediam no governo da província e a
exploravam em seu proveito, tanto nos altos cargos, como no monopólio de
bancos, indústrias e a exportação de tâmaras.
Sob o disfarce de auxiliar a
lavoura desse fruto, os membros dessas quatro ou cinco famílias conseguiam dos
soberanos privilégios e auxílios pecuniários que engrandeciam as suas
indústrias, tornavam sem concorrentes os seus produtos e favoreciam grandes
lucros nas suas explorações agrícolas.
Temendo que Abu-Al-Dhudut não
continuasse, como os seus antecessores, a lhes dar tudo o que pediam, armaram
uma grande oposição ao seu governo, agitaram os espíritos e fizeram com que
muita gente perdesse haveres, cargos e até a vida.
Abu-Al-Dhudut, quando se viu
seguro no trono, tratou de invadir a província e castigá-la conforme
entendesse.
Organizou tropas e dispôs as
cousas de forma a vencer os recaí cítrantes de Al-Bandeírah.
O povo dessa província pôs-se
como uma só pessoa ao lado dos oligarcas que o governavam com muita habilidade
e tal era esta que ninguém podia supor que o que eles defendiam eram os seus
interesses particulares de donos de bancos, de chefes de casas comerciais, de
proprietários de minas e fábricas, de ricos cultivadores de tâmaras.
O entusiasmo e o ardor da
população pela causa de sua autonomia eram tais que tudo fazia esperar que a
guerra civil rebentasse. Mas, como os membros das famílias que governavam
AI-Bandeirah eram antes de tudo homens de negócios, de especulação comercial e
não tinham interesse em guerrear, mas sim amedrontar Abu-Al-Dhudut de modo a
que este não perturbasse as suas existências regaladas, trataram de arranjar as
cousas de modo mais cômodo, tanto mais que o sultão continuava no seu propósito
de intervenção.
Pondo de parte tudo o que tinham
afirmado com tanta altivez, procuraram um príncipe da família de Abu e
arranjaram, por alguns milhares de piastras e outros dons, que não houvesse a
invasão projetada.
Dessa maneira eles continuaram a
fruir e a aumentar as suas riquezas, embora tivessem arrastado, com a agitação
que fizeram, com os juramentos que juraram, muita gente á miséria, á enxovia e
á morte.
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Nota:
Lima Barreto: "Histórias e Sonhos" (1920)
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