AO MEU AVÔ TITIO
(Para José Pereira da Rosa Filho)
Evoco em sonhos
auras já vividas
Na vertigem das
horas vesperais...
E vejo a imagem
sã, com tantas vidas,
Do meu finado avô
pelos currais...
Eu, no “ingênuo
folgar”, e ele, nas lidas
__ Bolsa de sal ao
ombro, e os animais,
Já mugindo, a
tangê-lo com lambidas
Aos cochos, que
hoje o não verão jamais!
Mas, se às vezes
visito a tal fazenda,
De cada cocho vem
saudade horrenda
E de cada saudade
esta visão:
Em vez de cocho
para o sal do gado,
Nele vejo o vovô
“Titio” deitado,
Pelas reses velado
__ em seu caixão!
MINHA VIOLA
Tua madeira já foi
pinheiro um dia,
Onde o vento
manhoso, em sons de ninho,
As cordas
milenares já feria
Na cantiga eternal
de um passarinho!
Têm-te as curvas
do encanto e da magia
Da formosa cabocla
em desalinho...
Dela tens a voz
triste, em litania,
Também clamas a
falta de um carinho!
Por isso, viola
minha, se a saudade
Esta vida tapera
em dor me invade
E a ausência dela
rói-me desse jeito,
Há só um consolo,
ó viola abençoada,
É abraçar-te qual
fosses minha amada,
Te aconchegando
assim contra meu peito!
PEREGRINO DO AMOR
Qual do deserto um
nômade sedento
A buscar um oásis
no destino,
Em cada sonho eu
ia atrás de alento,
E em cada alento
eis novo desatino.
No vão caminho as
pedras do tormento
Só me sangrando os
pés de peregrino...
Plasmei, então, em
preces, meu intento,
Paz implorando ao
peito inda menino!
Valeu a pena, oh!
Céus, a persistência
De buscar qual um
louco na existência
Quem fosse – um
dia ao menos! – minha amada.
Um dia de amor me
era o suficiente...
Mas eis que Deus,
tão justo e tão clemente,
Fez-te, Amor,
minha eterna namorada!
ADEUS A OTÁVIO GONÇALVES GOMES
Foste a vaga cantante
de alegria,
O vento sibilante
no capim...
Hoje o canto tão
triste silencia
Porque a realidade
quis assim.
Sei que em pranto
deixaste a Academia,
Sobrevoando Rio
Pardo até Coxim;
Do chão que amaste
a alma despedia,
Na busca tão
incerta do Sem-Fim.
Tão muda a
reverência, muda a prece,
Tudo em silêncio
te acenava adeus...
Mas, em meio ao
silêncio, te estremece
Um cântico que
eclode da ansiedade:
Eram seriemas te
clamando a Deus
Em súplicas
precoces de saudade!
MEU MONJOLO
(Música do autor, gravada por ele na 3ª faixa
do seu CD “Cheiro de Chão”).
I
Este peito
corroído
Pelos cupins da
ansiedade
É um judiado pilão
Moendo ao meu
coração
Fubá de
felicidade...
É o monjolo do
tempo
Me socando aqui
por dentro
Na cadência da
saudade!
Refrão
Ai, ai... Eu não
me consolo,
Vendo apodrecer no
chão
Sem bater no seu
pilão
O meu saudoso
monjolo!
I I
Evocando sua lida,
Monjolo, meu
companheiro,
Sua canção ainda
ouço
Nas águas do
calaboço
E eu brincando no
terreiro...
Sem pensar que
aquilo tudo
Fosse um dia ficar
mudo
E como ficou
ligeiro!
Refrão ...
III
Oh! Deus, que
calamidade,
Ao seu lado
soterrada
Também jaz a bica
d’água,
Só que agora jorra
mágoa
No monjolo do meu
ser...
Você, a bica e o
pilão
É o que resta nesse
chão
Onde desejo
morrer!
Refrão ...
IV
Mas você foi minha
vida,
Por isso eu quero
sonhando,
Ó monjolo, meu
irmão,
Rever você na
ilusão
De ser menino
outra vez...
E com você
recompor
Toda uma vida de
amor
Que o progresso
desfez!
Refrão ...
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Fonte:
Revista da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras: nº 4 - junho de 2004.
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