DEUS
Deus
Leva-me ao cume da
montanha
Para que eu tenha
uma visão mágica da natureza
e volte com as
mãos repletas de flores.
Mostra-me a Tua
vontade
Onde a felicidade
ainda existe.
Deus
Entende minhas
carências e o meu refúgio
Cruza a tênue
linha da vida
Em cada momento, a
cada sol
acende a chama da
virtude
na alma que me
deste
Deus
Quero ouvir o Teu
chamado
Comer a Tua ceia.
E quando chegar a
hora da luz
e da verdade, ao
som de violinos
dormirei a Teus
pés.
SONHOS ROUBADOS
Cai a máscara.
Sem horizonte, a
solidão
é o oráculo nesta
cidade que
não mais conheço.
O sol esboroa-se
refletido nas
vidraças
empoeiradas.
Tremulam sombras
esculpidas
na geometria do
concreto.
Homens armados,
carros blindados,
guarda-costas
atentos.
Cristos em sangue.
O asfalto repleto
de tradições
pactuando com a
realidade virtual.
As imagens do
computador
mostram corações
de vidro
e a ferocidade de
suas derrotas.
Criaturas sem face
clamam por
liberdade.
Crianças reclamam
a devolução dos
seus sonhos.
HORA DA VERDADE
As tristezas se
acumulam
as dívidas também.
A hora da verdade
Não é a do dia
Enquanto o sol
jorra pela janela.
É de madrugada
Quando acordada me
levanto
e a Besta está
solta.
A ela me revelo.
Tanto é o medo do
perjúrio
que estremeço
enquanto outros
acham graça.
Indiferentes, não
se alarmam
com as guerras
alheias
com as nossas
guerras
com os nossos
mortos.
Burguesia apática
Zumbis a contar
dólares.
Esquálidas
crianças nos
olham através da
tela.
Todos os dias,
todas as noites
enquanto seus
corpos apodrecem
nas estradas
olhos esbugalhados
a camarilha
persegue o ouro
aviltando com a
cobiça
o funeral da fome.
A lama escorre nas
rasas
sepulturas. As
carpideiras
não choram mais.
Não há mais sangue
para os vampiros.
Mas eles
persistem, escondendo
os dólares,
enquanto
crianças famintas
nos olham
através da tela
todos os dias,
todas as noites.
E nós, poderosas
criaturas, nos
refestelamos com
iguarias
enquanto elas
morrem
de fome.
MEDITAÇÃO
No lodo do rio
talhado com o
sangue dos infiéis
naves
contraditórias descem na correnteza
procurando
certezas
que só Deus nos
pode dar
Como o lótus
nascido no silêncio
o monge medita as
transições da lua,
a transparência do
vidro,
o silêncio,
o nada ser para
alcançar o sempre.
Sentindo que sem
esperança do eterno
não há o sentido
da vida.
Sem o saber do
infinito
não há para que
uma alma.
AUTO-RETRATO
Manequim de
madeira
carcomido
empoeirado
esquecido no canto
como velhas
lembranças.
Manequim
articulado
num eterno abraço
coração vazado,
sorriso
sem alma.
O sótão é seu
abrigo
o silêncio, seu
amigo
um girassol, seu
amor.
Manequim
abandonado
que da sorte se
perdeu.
Sou eu.
---
Fonte:-
Revista Brasileira: Fase VII - Outubro-Novembro-Dezembro 2007 - Ano XIII - Nº 53
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