SONETO DE ABERTURA
Eu faço versos, eu
não sei porque
Meu verso inculto
é veio d’água suja,
Em vez de rio
cristalino, cuja
Nascente o gênio,
apenas, é quem vê.
Se eu faço versos,
são para você?
Talvez o canto de
seus olhos ruja,
Querendo o mar,
num veio d’água suja,
E eu faço versos,
eu nem sei porque.
Quem há, porém,
que ao corriqueiro fuja
E, por um verso, a
vida inteira dê?
Um verso rude, um
verso tal, quem lê?
Que uma boiada
toda, em versos, muja!
Meu verso inculto
é veio d’água suja
E eu faço versos,
eu nem sei porque.
SEMPRE RUTH
Como tens o olhar
profundo,
Mais vasto que o
vasto mundo,
Compreenderás meu
naufrágio,
Afoguei-me sem
morrer,
Ficando preso meu
ser
Neste amor de um
só contágio,
Contágio de seu
olhar,
Ora verde, como o
mar,
Ora cinza, ora
castanho.
Que me faz a vida
inteira,
Uma vida
seresteira,
Com versos vindos
d'antanho.
O tempo passa e
descubro,
Tal rubi formoso e
rubro,
O teu encanto
infinito
E caminho, passo a
passo,
Abrindo, louco, no
espaço,
Meu amor cravado
em mito.
As palavras sempre
as mesmas,
Desvendam pinturas
esmas,
No meu velho
coração.
Tenho a alegria de
tê-la,
Minha deslumbrante
estrela,
Que contemplei
desde o chão.
Eu não sei como os
sextetos
Terminar, tais os
coretos
Que o moderno eliminou.
Meus versos seguem
a sina,
Pois te vêem
sempre menina,
Versos que já não
dão show.
Eu sinto
dificuldade
Em compor na minha
idade,
Mesmo sendo para
ti,
Mas não paro, pois
assim
Continuas no
jardim
Deste sonho que
vivi.
Querida eu amo-te
tanto,
Que me causa muito
espanto,
Acordar tendo-te
ao lado
E sou grato
eternamente
A Deus que a mim,
indigente,
Me tornou o teu
amado.
E neste sexteto
paro,
Na inspiração sem
amparo,
Visto qu'és a
minha vida.
E a fraqueza
destes versos
Vale mais do que
universos,
Pois são para ti,
querida.
A ENCRUZILHADA DO SILÊNCIO - REFLEXO
PRIMEIRO
Pelas quedas, que
levantam,
Pelos sonhos, que
sustentam,
Pelos cantos, que
descobrem,
E como as aves,
que, eternamente, mostram
O caminho de todos
os mistérios,
Hei de buscar-te,
sempre,
CAUSA - SANGUE,
Desvirginando o
espaço de meu tempo.
A ENCRUZILHADA DO SILÊNCIO - REFLEXO
SEGUNDO
Eu sou o poeta, que correu o mundo,
Que sentiu
tristezas
E calou misérias.
Eu sou o poeta,
que viveu o mundo,
Que buscou
respostas
E encontrou
silêncios.
Eu sou o poeta,
que esqueceu o mundo,
Que sorriu à vida
E caminhou
sozinho.
No deserto de
ilusões,
Os amigos
desprezaram meu falar
E eu pouco me
importei,
Porque, algum dia,
Os amigos serão
simples,
Serão bons
E eu perdôo os de
hoje, por aqueles.
No mercado de
ilusões,
As mulheres
gargalharam meu olhar
E eu pouco me
importei,
Porque, algum dia,
As mulheres serão
puras,
Serão nobres
E eu perdôo as de
hoje, por aquelas.
No templo de
ilusões,
Os sacerdotes
romperam meu rezar
E eu pouco me
importei,
Porque, algum dia,
Os sacerdotes
serão sábios,
Serão crentes
E eu perdôo os de
hoje, por aqueles.
O poeta é o
mensageiro da esperança,
O poeta deve crer
E eu creio,
Porque
Eu sou aquele,
Que, ainda, sonha
flores
E descobre
estrelas,
Eu sou aquele
Que, ainda, busca
anjos,
Onde existem
feras,
Eu sou aquele
Que, ainda, prega
aos fortes
E defende os
fracos...
A ENCRUZILHADA DO SILÊNCIO - REFLEXO
TERCEIRO
Eternidade
O canto é
indefinido,
A noite triste.
O luar tem
rabugens de rancor
E brilha
E foge
E para
E olha
O vate só.
O canto é
indefinido,
O vate escuta.
As árvores são
espectros
De inverno,
Assombraçães
Do quadro
estranho.
O vate pensa,
A noite é triste.
Ninguém lamenta
E nenhum grito
De boca fria
Acorda a vida,
Que dorme, calma,
Virge’entre
loucos.
E o canto é
indefinido
E a noite é triste
E o vate escuta.
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