VERSOS DO TRINCO DA PORTA
Versos do
trinco da porta,
- Louvado
seja o Senhor!
A casa é
Deus quem ma guarda,
Ninguém a
guarda melhor!
Batem os
pobres à porta,
- Batem
com ar de humildade.
"Eu
sei que é pouco irmãozinho!
É pouco,
mas de vontade!"
Quem é que
a porta abriria,
Com modos
de atrevimento?
São coisas
da criadagem!
Não foi
ninguém, - é o vento!
Mexem no
trinco da porta.
-
"Levante, faça favor!"
A entrada
nunca se nega
Seja a
visita quem for!
Não vês a
porta batendo?
Que aragem
essa que corta!
Em toda a
volta do dia,
Não para o
trinco da porta!
Trinco da
porta caindo
Sobre a
partida de alguém...
Oh,
quantos vão e não voltam?!
São os que
a morte lá tem!
NO DESERTO
Chegaram
os camelos junto ao poço,
Quando
Rebeca tinha a urna cheia.
Foram
momentos esses de alvoroço,
Bem raros
de encontrar em terra alheia.
Também meu
coração, menino moço,
Nos cardos
do caminho se golpeia.
Ouço-te os
passos, dentro de alma eu ouço
O eco dos
teus passos sobre a areia.
Busquei-te
no deserto longamente...
Como
Rebeca outrora, condoída,
Surgiste,
calma, na poeira ardente.
De ânfora
baixa, à boca da cisterna,
Ficaste
assim, para toda a tua vida,
Matando a
minha sede, que é eterna!
VELHO MOTIVO
Soneto de
Jacob, pastor antigo,
– soneto
de Raquel, serrana bela...
Oh!
quantas vezes o relembro e digo,
pensando
em ti, como se foras Ela!
O que eu
servira para viver contigo,
– tão
doce, tão airosa e tão singela!
Assim,
distante do teu rosto amigo,
em
torturar-me a ausência se desvela!
E vou
sofrendo a minha pena amarga,
– pena que
não me deixa nem me larga,
bem mais
cruel que a de Jacob pastor!
Raquel não
era dele, e sempre a via,
enquanto
que eu não vejo, noite e dia,
aquela que
me tem por seu senhor!
LETREIRO
Tudo o que
sou o sou por obra e graça
da comoção
rural que está comigo.
Foi a
virtude lírica da Raça
a herança
que eu herdei do sangue antigo.
Foi esta
voz que em minhas veias passa
e atrás da
qual, maravilhado eu sigo.
Como um
licor de encanto numa taça,
assim se
quer esse condão comigo.
Olhai-me:
- Eu vim de honrados lavradores.
De avós e
netos, sempre os meus Maiores
fitaram o
horizonte que hoje eu fito.
“O que
estaria além da curva estreita?”
- E da
pergunta, a cada instante feita.
nasceu em
mim a ânsia p'ra o Infinito.
A OLIVENÇA, A PERDIDA
Fiel ao
sangue, nossa irmã germana,
chora
Olivença as suas horas más
junto do
rio que tornou atrás,
quando
soou a trompa castelhana.
Ó Casa de
Antre Tejo-e-Guadiana,
lembra-te dela
que entre ferros jaz!
Não a
dobrou a guerra nem a paz,
- fiel ao
sangue, o sangue a ti a irmana!
E todo
aquele em quem ainda viva
o ardor da
Raça e a voz que nele anseia,
se for
p'ra além da raia alguma vez,
é
Olivença, nossa irmã cativa
lá onde
com surpresa a gente alheia
oiça dizer
adeus em português!
---
Fonte
"Toda a Poesia: Antologia Poética". Poeteiro Editor Digital. São Paulo, 2015.
Gostava de partilhar em Livros NIDIA HORTA.
ResponderExcluirGrata pela ajuda que me vai dar, na preparação do meu livro Mágico Alentejo, no meu site Livros Nidia Horta
ResponderExcluir