BORGHI MAMO
Ao doce
timbre harmonioso e brando
Da tua
voz, ó alma enamorada,
Sinto
minha alma em sonhos embalada
E como que
eu também fico sonhando!
Como
agitava o vento, perpassando,
A harpa
eólia no salgueiro alada,
Tal me
agita essa voz apaixonada
Quando, ó
ave de amor, surges cantando.
Ouvir-te é
como ver nascer a aurora:
Tudo
inunda de luz, tudo ilumina
A tua voz
angélica e sonora.
Solta,
pois, a volata peregrina!
Ama, geme,
soluça, canta e chora,
Celeste
Aída, Malibran divina!
ATRAÇÃO E REPULSÃO
Eu nada
mais sonhava nem queria
Que de ti
não viesse, ou não falasse;
E como a
ti te amei, que alguém te amasse,
Coisa
incrível até me parecia.
Uma
estrela mais lúcida eu não via
Que nesta
vida os passos me guiasse,
E tinha
fé, cuidando que encontrasse,
Após tanta
amargura, uma alegria.
Mas tão
cedo extinguiste este risonho,
Este
encantado e deleitoso engano,
Que o bem
que achar supus, já não suponho.
Vejo,
enfim, que és um peito desumano;
Se fui ter
junto a ti de sonho em sonho,
Voltei de
desengano em desengano.
ANTES DE PARTIR
Venho
ensopar de lágrimas o lenço
No
tristíssimo adeus de despedida;
Em breve a
Pátria vou deixar perdida
Além - na
curva do horizonte imenso!
Em breve
sobre o mar profundo e extenso
Adejará
minh'alma dolorida,
Como a
gaivota errante, foragida,
Sem ter um
ninho onde pousar, suspenso!
Então,
senhora, hei de pensar, tristonho,
Revendo a
vossa angélica bondade,
Neste
ninho de amor calmo e risonho;
E triste,
sobre a triste imensidade,
Como quem
despertou de um ledo sonho,
Hei de
chorar o pranto da saudade.
VÁCUO
Não sei se
pode haver padecimento
Mais profundo,
mais íntimo e que tanto
Nos ponha
na alma a dor que gera o pranto,
Do que um
longo e tristonho isolamento.
Não ter um
bem sequer no pensamento,
Nem o
calor de um lar, nem o encanto
De um amor
de mulher suave e santo,
É viver
sem nenhum contentamento.
Bem sei
que é bom sofrer, e me parece
Que esta
vida sem dor nada seria,
E que é
por isso até que se padece.
Mas esta
solidão contínua e fria
Chega a
ser tão cruel, que a não merece
Um coração
que a dor mereceria.
SÚPLICA
Por mais
que aspire ou queira, anele ou tente
Esquecer-me
de ti - jamais me esqueço,
Ó bem
amado ser por quem padeço,
Por quem
tanto soluço inutilmente!
Bem que eu
te peça, foges de repente,
E só me
fica a dor que te não peço;
E eis
tudo, ó céus! eis tudo o que eu mereço,
Em paga
deste amor tão puro e crente.
Se te não
move, pois, um desafeto
E se te
apraz ao menos consolar
A
desventura amarga deste afeto,
Ilumina
com teu divino olhar
Esta alma
que os teus pés, anjo dileto,
Vem,
banhada de lágrimas, beijar.
Fonte:
"Toda a Poesia: Antologia Poética". Poeteiro Editor Digital. São Paulo, 2015.
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