CIÚME
Não sabe com certeza
o que é ciúme,
O que é sentir no
peito, em vida, gelo,
Pegar no coração e
contorcê-lo,
Subir da raiva e
do ódio ao negro cume.
Não sabe o que é
do amor o ardente lume...
Sonhar um vasto céu
e compreendê-lo,
Para ver,
cruelmente, desfazê-lo,
Na sombra da ilusão,
voraz negrume.
Não sabe, não,
senhora!... ai! se o soubesse,
Se o pudesse
antever, se o compreendesse,
Estrangulando a
vida, á voz do amor...
Por mais cruel que
fosse não daria
A uma alma, irmã
da sua, essa agonia
Vendo-a morrer em
convulsões de dor.
ETERNO AMOR
Se a morte me
extinguir a mocidade,
Cortando o fio de
penosa vida,
Julgar-me-ás uma
ilusão perdida,
Haverá dentro em
ti uma saudade?
Buscarás
descobrir, na imensidade,
Quando a noite
passar enegrecida,
Uma estrela serena
e dolorida
Que te fale de
mim, da eternidade?
Ou antes,
esquecendo antigo enleio,
Extinguirás de
vez, dentro em teu seio
A lava enorme d'um
passado amor?
Se for assim, em
noite tenebrosa,
Tu hás de ouvir
minh'alma lacrimosa,
Magoadamente a
suspirar de dor.
ADORAÇÃO
Ouço dizer, ha
muito, que a saudade
Aviva n'alma os
grandes sentimentos,
Engrupando num só
os pensamentos
Que se reúnem,
além, na imensidade.
Deixei-te um dia
em triste soledade,
Parti, cheio de
dor e de lamentos;
O pobre coração,
entre tormentos
Lutando com
raivosa ansiedade.
Voltei tempo
depois:— O sol raiava,
Sorria a
primavera, e ostentava
O agreste brejo a
perfumada flor.
E ao ver-te,
novamente, ó doce amante,
Disse a teus pés
caído e murmurante:
— Bendita a natureza e o teu
amor!
FLOR PERDIDA
Quando sorria a infância
docemente
Aos olhos infantis
da minha esp'rança,
Era-me o céu azul,
azul bonança
Me enchia o alegre
peito, ternamente.
Brilhante o
espaço, a aurora transparente,
Brando o futuro se
a ilusão avança!...
Assim jamais o
coração se cansa,
Mostrando á nevoa
fria um sol ardente.
Pastam os olhos
meigos pelos prados,
Os astros rompem
sempre vigorosos
As campinas do céu,
fortes arados.
E murcham sobre a
campa luminosos
os lírios! É que
lembram, emigrados
Alegres campos,
verdes, deleitosos.
OS TEUS OLHOS
I
Inveja a noite
escura e tenebrosa
A negra cor do teu
olhar vibrante,
Espelho d'alma
triste e peito amante,
Imagem d'uma estrela
radiosa.
O teu olhar de
fogo!... É assombrosa
A luz que espalha
ao de redor; distante
Se for um dia,
caminheiro errante,
Que ele me enxugue
a face lacrimosa.
Se além, na campa,
os membros já cansados
Eu repousar ao pé
dos tristes lírios
E dos funéreos
goivos delicados.
Pago serei então
de meus martírios,
Se, junto a mim,
teus olhos magoados
Forem-me, ali, os
derradeiros círios.
II
Os olhos que me
deram na existência,
Com seu gentil
fulgor de virgindade,
Umas vezes amor,
outras saudade,
Renascendo-me a
paz na consciência;
Olhos cheios de
vida e de inocência,
Revivos de perfume
e suavidade,
Olhos de tão
formosa claridade
Que escurecem do céu
a transparência;
Talvez sejam ainda
os companheiros
Da melodia heroica
de meu canto,
Meus amigos
sinceros, verdadeiros.
Talvez!... Mas se poder
a sorte tanto
Que os afaste de
mim, que os derradeiros
Suspiros meus
orvalhem com seu pranto.
Fonte
"Toda a Poesia: Antologia Poética". Poeteiro Editor Digital. São Paulo, 2015.
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