NA CADEIA
na cadeia
os bandidos presos!
o seu ar
de contemplativos!
que é das
feras de olhos acesos?!
pobres dos
seus olhos cativos
passeiam
mudos entre as grades,
parecem
peixes num aquário.
- campo
florido das saudades,
porque
rebentas tumultuário?
serenos...
serenos... serenos...
trouxe-os
algemados a escolta.
- estranha
taça de venenos
meu
coração sempre em revolta.
coração,
quietinho... quietinho...
porque te
insurges e blasfemas?
pschiu...
não batas... devagarinho...
olha os
soldados, as algemas!
EU VI A LUZ EM UM PAÍS PERDIDO
Eu vi a
luz em um país perdido.
A minha
alma é lânguida e inerme.
Oh! Quem
pudesse deslizar sem ruído!
No chão
sumir-se, como faz um verme...
AO LONGE OS BARCOS DE FLORES
(A Ovídio de Alpoim)
Só,
incessante, um som de flauta chora,
Viúva,
grácil, na escuridão tranquila,
- Perdida
voz que de entre as mais se exila,
- Festões
de som dissimulando a hora
Na orgia,
ao longe, que em clarões cintila
E os
lábios, branca, do carmim desflora...
Só,
incessante, um som de flauta chora,
Viúva,
grácil, na escuridão tranquila.
E a
orquestra? E os beijos? Tudo a noite, fora,
Cauta,
detém. Só modulada trila
A flauta
flébil... Quem há de remi-la?
Quem sabe
a dor que sem razão deplora?
Só,
incessante, um som de flauta chora...
CREPUSCULAR
Há no
ambiente um murmúrio de queixume,
De desejos
de amor, dais comprimidos...
Uma
ternura esparsa de balidos,
Sente-se
esmorecer como um perfume.
As
madressilvas murcham nos silvados
E o aroma
que exalam pelo espaço,
Tem
delíquios de gozo e de cansaço,
Nervosos,
femininos, delicados.
Sentem-se
espasmos, agonias dave,
Inapreensíveis,
mínimas, serenas...
- Tenho
entre as mãos as tuas mãos pequenas,
O meu
olhar no teu olhar suave.
As tuas
mãos tão brancas danemia...
Os teus
olhos tão meigos de tristeza...
- É este
enlanguescer da natureza,
Este vago
sofrer do fim do dia.
ESTÁTUA
Cansei-me
de tentar o teu segredo:
No teu
olhar sem cor, - frio escalpelo,
O meu
olhar quebrei, a debatê-lo,
Como a
onda na crista dum rochedo.
Segredo
dessa alma e meu degredo
E minha
obsessão! Para bebê-lo
Fui teu
lábio oscular, num pesadelo,
Por noites
de pavor, cheio de medo.
E o meu
ósculo ardente, alucinado,
Esfriou
sobre o mármore correto
Desse
entreaberto lábio gelado...
Desse
lábio de mármore, discreto,
Severo
como um túmulo fechado,
Sereno
como um pélago quieto.
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Fonte
"Toda a Poesia: Antologia Poética". Poeteiro Editor Digital. São Paulo, 2015.
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