QUE AZIAGO QUE FOI, QUE DIA INFAUSTO
Que aziago que
foi, que dia infausto
Aquele, em que vi
tua formosura!
Em que cheio de
amor e de ternura
Esta alma te
ofertei em holocausto!
Teus olhos m'o
fizeram ter por fausto,
Teus belos olhos
cheios de doçura,
Mas logo me fez
ver minha loucura
Teu peito de
rigores nunca exausto.
Ai! e quão
mesquinho é, quão desgraçado
Aquele, que como
as mostras vão se engana
De um angélico
rosto sossegado!
Pois mil vezes
encobre a vista humana
Qual áspide cruel
florido prado,
Um coração uma
alma desumana.
EM DEFESA DA LÍNGUA PORTUGUESA
Desta audácia,
Senhor, deste descoco
Que entre nós, sem
limite, vai lavrando,
Quem mais sente as
terríveis consequências
É a nossa
português, casta linguagem,
Que em tantas
traduções anda envasada
(Traduções que
merecem ser queimadas!)
Em mil termos e
frases galicanas!
Ah! se, as
marmóreas campas levantando,
Saíssem dos
sepulcros, onde jazem
Suas honradas
cinzas, os antigos
Lusitanos varões,
que, com a pena
Ou com a espada e
lança, a Pátria ornaram;
Os novos
idiotismos escutando,
A mesclada dição,
bastardos termos
Com que enfeitar
intentam seus escritos
Estes novos,
ridículos autores;
(Como se a bela e
fértil língua nossa,
Primogênita filha
da Latina,
Precisasse de
estranhos atavios)
Súbito, certamente
pensariam
Que nos sertões
estavam de Caconda,
Quilimane, Sofala
ou Moçambique;
Até que, já, por
fim, desenganados
Que eram em
Portugal, que os Portugueses
Eram também os que
costumes, língua,
Por tão estranhos
modos afrontaram,
Segunda vez, de
pejo, morreriam.
VEM, OH NOITE SOMBRIA
Vem, oh noite
sombria, e revolvendo
O longo açoite,
que à carreira acende
As fuscas Éguas,
sobre a terra estende
De sombras
carregado o manto horrendo:
Vem: e as brancas
papoilas espremendo,
Em letárgico sono
os mortais prende;
Que a minha bela
Aglaia hoje me atende,
A meu amor mil
glórias prometendo.
Se às minhas vozes
dás benigno ouvido,
Encobrindo com teu
escuro manto
Os suaves delírios
de amor cego;
Imolar-te prometo
agradecido
Um negro galo, que
em contínuo canto
Se atreve a
perturbar o teu sossego.
CORRE, JÁ ENTRE SERRAS ESCARPADAS
Corre, já entre
serras escarpadas,
Já sobre largos
campos, murmurando.
o Tieté, e, as
águas engrossando,
soberbo alaga as
margens levantadas.
Penedos, pontes,
árvores copada:
quanto topa, de
cólera escumando,
com fragor
espantoso vai rolando
nos vórtices das
ondas empoladas.
Mas quando mais
caudal, mais orgulhoso,
as margens rompe,
cai precipitado,
atroando ao redor
toda a campina.
O próprio retrato
é dum poderoso,
pois quanto mais
sublime é seu estado
mais estrondosa é
a sua ruína.
RAIAVAM NO HORIZONTE OS RESPLENDORES
Raiavam no
Horizonte os resplendores
Da marchetada
Aurora, que esparzia
Das soltas tranças
sobre a terra fria
Um mimoso chuveiro
de mil flores:
Ao mesmo passo
Aglaia, os meus amores,
Pelo cume de um
monte aparecia,
Enchendo a selva
toda de alegria
Com a luz de seus
olhos triunfadores.
Vinha tão bela,
tão airosa estava,
Que do rosto
gentil, gentil postura
A terra e o mesmo
Céu se namorava:
Então vi que ante
a sua formosura
Cheia de pejo a
Aurora se ocultava,
Qual ante a mesma
Aurora a Noite escura.
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