segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Edmundo Barros: "5 Poemas"

A MINHA MÃE
SONETO DE H.HINE

Num momento de insensatez, outrora
Fugi de vós; queria, aos quatro ventos,
Ir em busca do "amor" e, nuns momentos
De delírio, abraçá-la... E mundo à fora,

Vou. Mas em não! não me ouvem os lamentos.
Embora o peço em lágrimas... embora!...
Ante cada solar minha alma o implora,
E dão-lhe só o desprezo e o riso odientos!...

Depois de sempre e em vão tê-lo buscado,
Volto um dia a meu lar. Manso decerra
Uma porta: Éreis vós... Mudo, cansado,

Fitei a luz que nosso olhar encerra;
E vi, surpreso, o amor, tão procurado,-
O amor mais puro que encontrei na terra! 



RÚNICO
(De H. HEINE)

O rúnico penedo, o oceano o enlaça;
Nele me abismo em sonhos. Mergulhando
Vão as gaivotas, em ruidoso bando;
O vento sopra, a vaga escuma e passa.

Tantas jovens amei!... tão grande massa
De amigos vi! ... Que é deles?! ... vou pensando.
                                                                          --
O vento - sopra; a vaga - escuma, e passa...



MADRIGAL
(DO POETA BOLIVIANO VILLALOBOS)

O céu, de róseas nuvens tinto, eu via;
Da cor dos lábios teus — rubros esfolhos;
E, assim, me parecia
Que, cheio de pudor, enrubescia...
Vendo outro céu no azul desses teus olhos. 



SAARA DO AMOR
A DINIZ SÁTIRO

Vivo, entre os homens, num deserto:
Vivo qual na deserta Líbia um monge:
— Horror!—:
Ver a mulher que eu amo, ali passar,tão perto...,
E o seu amor — tão longe
Do meu amor!... 



NO GÓLGOTA
A COELHO NETTO

Limpo o céu... que é do sol? Treme o chão... Misto
De neve e sangue e luz, inteiriçados
No lenho os frios músculos, cravados
No alto os olhos sem brilho, é morto o Cristo. 

Morto, e por nós!... e oh, caso nunca visto:
É noite em pleno dia!... E venta... Aos lados,
Se abrem tumbas; e os manes vão-se, alados...
Enfim: a Bíblia conta-nos tudo isto; 

Mas não nos conta (e é de receios preza
Pelo Mal que adviria de tal cena)
Que, ao pé da cruz, uma genial beleza

Olhou a Jesus, com tanto amor e pena
Que, se ele, o Mestre, a visse... ai! com certeza
Morrera, mas — no olhar da Madalena. 

(1901)

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