domingo, 22 de novembro de 2015

Antônio Lobo de Carvalho: "5 Poemas"

SONETO I
Ao Paca do Rio de Janeiro, indo de Lisboa são, do muito gálico que trouxe

Putaria do sul, gentinha fraca,
Convosco falo, cagaçais do Rio;
Que vendo ao longe as vergas de um navio
Altos vivas cantais ao vosso Paca:

Não tarda muito, vai numa sumaca
Que em horror do pirata e do gentio,
No tope leva um piçalhão de brio,
Que o vento açouta ao modo da matraca:

Vista a senha, rapai todas a crica,
Que o duro batedor, que nunca enjoa,
Lá no signo de virgo em terra fica:

Que para esfrega de uma moça boa
Sararam-lhe os colhões e cresceu-lhe a pica
Por milagre das deusas de Lisboa.

A vila de Guimarães, que é a pátria do amor

Olha tu, Guimarães, das cortes velhas
Nenhuma a primazia te disputa;
Ainda que baixa, és terrinha enxuta,
Onde são bem chuchadas as botelhas:

Panelas, socos, nabos e cemelhas
Do país foram sempre a melhor fruta;
Só dos dois animais o frade, e a puta,
Podas ter de alquiler três mil parelhas!

Daí vêm os heróis de marca e selo,
Que indo as honras buscar ao chão acima,
Acabam laureados de capelo:

Assim Jove imortal, que os bons estima,
Te ponha a mesma mão pelo cabelo,
Que pôs há tempos em Calhau de Lima.



SONETO II
A certas moças que traziam engodados os basbaques, que por elas deixavam cardar

Há certas semi-putas nesta terra,
A quem lerdos basbaques fazem tolas;
Que vivendo de ganchos, e gaiolas,
As honradas pretendem fazer guerra:

As Dauphnis (por exemplo) andam na berra
Entre quatro afetados mariolas,
Que espertas devem ser, mas são patolas,
Que a sagaz cambadinha em vida enterra:

Quem as vê lambisgóias, faladoras,
O chiste já sediço repetindo,
Se é bolônio, ele crê que são doutoras:

O laberco porém, que esta medindo
Quanto dista de putas a senhoras,
Caga nelas, e deles se vai rindo.



SONETO III
A certa moça, chamando velho ao autor, que ainda se não tinha por tal

Não te escondo a guedelha encanecida,
Nem da rugosa fronte a cor já baça;
Conheço que o meu lustre, a minha graça
Foi por duros Janeiros destruída:

Confesso, ainda que é já bem conhecida,
Que a idade minha dos cinquenta passa;
Mas juro que ainda tenho grossa maça,
Qual teso mastaréu a pino erguida:

Se és hidrópica mestra fodedora,
Daquelas que procuram com trabalho
Lanzuda porra, porra aterradora:

Minhas cãs não te sirvam de espanta1ho;
Põe à prova o teu cono, e sem demora
Verás então se é velho o meu caralho.



SONETO VI
A certa Messalina dos nossos tempos, a quem se pode aplicar o que Juvenal dizia da romana

Essa altiva mulher, cara de borra,
Alta, magra, amarela, tola e feia,
Casada com um ourives que laureia,
Ténue dote comendo à tripa-forra:

Também ninguém duvida que Ihe escorra
Pelas pemas humor de gonorreia;
É tão puta, que diz à boca cheia
Que jamais se acolheu farta de porra:

Se a não fartou do Braga um caralhote
De vinte, nem do Arrobas um caralho
Nem outras porras mil, todas de lote;

Como há de saciá-la o seu paspalho,
Que tendo uma barriga como um pote,
Tem piça menor que um dente de alho?



SONETO CXXXIX
A um sargento-mor de Alcácer, por nome Pedro de tal, que mandava o seu retrato à sua noiva

Um olho cor de esponja, outro albacento,
cinco dentes fronteiros putrefatos,
casaca, veste, e todos os mais fatos
tudo roupa de preso, assaz nojento:

A peruca, de pêlo de jumento;
a bolsa, ninho de um casal de ratos,
as tombas sempre avulsas nos sapatos,
besuntadas as meias de unguento:

Este o Pedro primeiro galicado,
que tem sido da história para adorno
do exército de putas atacado:

Com que, Filis, falemos sem suborno:
veja você, depois de estar casado,
se um traste destes deixa de ser corno?

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