ROSAS DE
AMOR
Rodeando a casinha branca
de portas verde-gaio, coberta de telhas morenas, novinhas, as rosas de amor
floriam todo o ano o verde rosal estendido pelo ripado da tosca cerca.
Rosas de amor, lindas
vermelhas e perfumosas que atraiam as borboletas em bando; rosas de amor
gentis, sobre as quais a madrugada derrama pérolas do Céu, sempre, sempre
viçosas, cobrindo o cercado da casinha branca.
Mas, quem habitava aquele
ninho encantador no meio de rosas?...
Duas pombinhas mansas,
alvas como lírios brancos, vinham todas as tardes, ao toque da Ave Maria, a
descansar um instante naquele rosal florido; depois, voavam juntinhas e lá se
iam pousar entre os braços de uma cruz alma alva, que além se erguia, no campo,
sobre um montículo relvado de violetas, e ali dormiam ao brilho das estrelas ou
ao palor da lua, até á madrugada, e quando os primeiros albores bruxuleavam no
Céu, hei-las que voavam alto, muito alto, até perderem-se entre os palores do
alvorecer.
Eram as almas deles,
diziam pela aldeia.
E as mulheres do campo, e
as crianças timoratas não iam mais à tardinha proverem-se da água no cristalino
veio que corria por entre moitas de lírios e açucenas, porque tinham receio de
passar pela cruz branca que se erguia no montículo verde coberto de rosas
violetas.
Mas, quem eram eles cujas
almas tão castas, tão docemente irmãs vinham do Céu sob aquela aparência de
meiguice e ternura, ali, beijarem-se entre as rosas de amor?...
Eram primos, eram noivos;
um casal que se adorava, — contara, um dia certa velha camponesa daqueles
arredores .
Eles habitavam a casinha
branca, esposada de oito dias apenas.
Uma tarde brincavam
colhendo rosas... rosas de amor púrpuras e cheirosas que cobriam o cercado
tosco, quando, invejoso áspide que lhes espreitava a veutura, imprimiu, na
mãozinha, delicada um traiçoeiro beijo... de morte!
Ai! que não foram os
espinhos das rosas de amor que lhe arrancaram do coração amante aquele ai tão
magoado!
E na mão pequenina pálida
como uma pétala de magnólia, uma gotazinha vermelha se levanta...
E a jovem noiva desmaiou,
tombando entre as rosas que se lhe entornaram
do regaço...
Depois, no delírio de
febre, pedia ao seu amado que a seguisse ao Paraíso.
Ele assim prometeu a alma
adorada.
Dias após ela partiu para o
Céu.
Ele prometera: e, um dia, a
hora da Ave Maria, finou-se de saudades junto ao rosal sempre florido das rosas
de amor!
E suas almas alvas pombas
meigas, tão irmãs, vêm sempre, a hora da saudade, arrulhar ternuras no antigo
ninho do seu casto amor.
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Nota:
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