PENSÉE
Nunca, se me souberes amar,
Henrique, nunca eu te hei de esquecer.
Assim o creio, Heloisa, e
assim também o sente meu coração. Assim o tenho gravado na mente; sempre em ti
pensarei; sempre merecerei o teu afeto, pois sempre hei de te adorar, ainda que
nos separe o destino cruel, — sou teu.
Beijos, abraços e lágrimas
selaram o juramento da despedida.
Henrique partiu.
Que ternas letras ao
princípio! Quantas flores da alma ai trescalavam o divinal aroma...
Saudades, sempre-vivas,
não me deixes, miosótis, amores, cravos, perpétuas e martírios... que precioso ramalhete das flores do coração!...
Seis meses se passaram; as
cartas dele já não traziam tantos perfumes: que flor aí faltaria?...
Que raras saudades! ...
e as outras flores, murchariam no jardim de Henrique?
Ela tentara revivê-las, regando-as com lágrimas; porém o
jardim de Henrique se tornará improdutivo!
Naquele horto de amores -,
outrora tão fértil e onde tão delicadas flores brotaram, só duros espinhos
medravam agora.
Esquecia-se... Henrique
esquecia-se de cultivar as meigas flores do coração e as deixava fanarem-se...
morrer...
Heloisa entristeceu e
chorou como a violeta que roreja de lágrimas a terra, e gemeu como a rola
abandonada na solidão. Em torno dela a luz escureceu e se fez noite...
Depois, um dia raiou, e no
coração em que o sopro cruel do desengano desfolhara as meigas flores das
ilusões, doces raio de sol penetrou que fez desabrochar mimosa flor iriada:
aquela a que os franceses chamam Pensée...
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Nota:
Delminda Silveira: "Lises e Martírios" (1908)
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